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Brasil também tem metrossexual
DA REPORTAGEM LOCAL
Alvaro Garnero recebe a Folha
em sua casa no Morumbi, em São
Paulo, depois de ter malhado por
uma hora e meia em sua academia particular. O empresário de
34 anos veste blusa de cashmere,
calça bege e sapatos marrons italianos, sendo Dolce & Gabbana o
que não é Giorgio Armani.
Durante a entrevista, que só interrompe para remarcar sua manicure para o fim da tarde e brincar com o filho, Alvarinho, que teve com uma ex-modelo norte-americana, vai revelar que gasta
entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por mês
em roupa e metade disso em cosméticos e cremes de beleza.
Alvaro Garnero é um típico metrossexual brasileiro, talvez o
principal exemplar deles.
"Se ser metrossexual significa
um sujeito que se preocupa com o
visual na medida certa, então eu
sou", diz ele, que fez doutorado
em finanças e negócios internacionais na Universidade de San
Diego (EUA) e cuida da área internacional e de novos produtos
da Brasilinvest, do pai.
O dia do empresário, que conheceu a atual namorada na Daslu, a meca dos metrossexuais, e
conta em sua casa com três closets, 200 gravatas, 50 ternos e 18
m2 de espelho só no quarto, envolve cremes hidratantes Estée Lauder, gel para cabelo Paul Mitchell
e xampus Kérastase.
Garnero não está sozinho. Se
nomes mais frequentes na mídia
como os empresários Júlio Lopes
e Alexandre Acciolly, o publicitário Roberto Justus e o jogador
Alex Alves, do Atlético Mineiro
são exemplos óbvios, é a turma
mais discreta e numerosa que
compõe o mercado local.
Neste nicho se encaixa Sérgio
Waib, 31, diretor comercial da Jovem Pan FM e casado com a caçula do empresário Antônio Ermírio de Moraes. "Estar bem arrumado, vestindo grife, andar sempre bem barbeado é vaidade, mas
também uma necessidade em minha profissão", diz ele, que só veste camisas feitas sob encomenda
por um alfaiate particular que vai
frequentemente a seu escritório.
Nem todos concordam que o
novo termo seja novo e seja termo. "Isso é uma bobagem sem
fim", disse a publicitária Rose Saldiva, dona da Saldiva & Associados e autora de importantes pesquisas de comportamento, como
a que concluiu que mais de 90%
dos brasileiros acreditava em anjos. "Além disso, é velho. Fiz esse
levantamento em 1988, chamava-se "Narciso Século 21"."
Opinião diferente, mas igualmente crítica, tem o publicitário
Rodrigo Leão, diretor de criação
da W/Brasil, para quem "Madonna já foi tão Beckham quanto Beckham, assim como Caetano Veloso". "Pesquisa é um farol que
aponta pra trás", disse ele. "Essa,
por exemplo, detecta comportamentos que já existem há tempo."
Tudo seria então o bom e velho
narcisismo com outro nome? "Eu
não estigmatizaria o sujeito", diz
Giovanna Bartucci, psicanalista,
membro do Departamento de
Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. "A pesquisa aponta para
um homem que, lançando mão
de diferentes formas de produção
de sua subjetividade, habita afinal
um mundo interiorizado."
(SD)
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