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Paquistão vai rever sua política antiterrorismo
FARHAN BOKHARI
DO "FINANCIAL TIMES"
Após a saída de Pervez Musharraf, o Paquistão vai rever
sua política em relação à guerra
contra o terror, buscando dar
maior apoio social e econômico
à população para desencorajá-la de recorrer à militância.
A promessa feita por Wajid
Shamsul Hasan, o alto comissário do Paquistão em Londres,
coincidiu ontem com especulações crescentes de que a renúncia de Musharraf da Presidência, na véspera, seja seguida por
novas pressões dos EUA sobre
o governo de coalizão para que
dê mostras de determinação
maior no combate à militância.
"Precisamos impedir as pessoas de optarem pela militância. A maior falha da política de
Musharraf era o fato de dar ênfase apenas à estratégia militar.
Como é possível vencer uma luta contra seu próprio povo, e isso quando ele se opõe a você tão
resolutamente?", disse Hasan
em entrevista telefônica.
Com o surto de baixas dos
EUA e da Otan (aliança militar
ocidental) no Afeganistão nos
últimos meses, a Casa Branca e
outros governos ocidentais têm
criticado o Paquistão por não
fechar os 2.400 km da porosa
fronteira entre os dois.
Atentado
Os riscos criados pelos militantes islâmicos no Paquistão
ganharam destaque ontem,
quando ao menos 25 pessoas
morreram num atentado suicida perto de um hospital em Dera Ismail Khan, cidade próxima
à fronteira afegã.
Segundo a polícia local, o ataque foi lançado por militantes
sunitas ligados à Al Qaeda contra muçulmanos xiitas que estavam diante do hospital.
As declarações de Hasan
ecoam as opiniões de críticos
da ênfase dada por Islamabad
às operações militares. No último ano a CIA, agência de inteligência dos EUA, intensificou os
vôos de aviões não tripulados e
armados com mísseis sobre a
região da fronteira.
"Para o Paquistão, se as baixas no Afeganistão continuarem a subir, o risco maior é que
cresça a pressão sobre os americanos para retaliar nas áreas
da fronteira", disse um diplomata ocidental. "O Paquistão
fará bem em assumir o controle
dessa região. Pelo menos a população sentirá que o governo
está tentando protegê-la e talvez não fique tão desiludida."
O ex-comandante do Exército Abdul Qayyum disse que essa reorientação deve atingir
também o Exército.
"O Exército vem lutando na
região da fronteira há seis anos
e ainda não conseguiu frear os
militantes. Talvez seja hora de
conquistar os corações e mentes da população local, de fazer
dela sua aliada", afirmou.
Tradução de CLARA ALLAIN
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