São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Paquistão vai rever sua política antiterrorismo

FARHAN BOKHARI
DO "FINANCIAL TIMES"

Após a saída de Pervez Musharraf, o Paquistão vai rever sua política em relação à guerra contra o terror, buscando dar maior apoio social e econômico à população para desencorajá-la de recorrer à militância. A promessa feita por Wajid Shamsul Hasan, o alto comissário do Paquistão em Londres, coincidiu ontem com especulações crescentes de que a renúncia de Musharraf da Presidência, na véspera, seja seguida por novas pressões dos EUA sobre o governo de coalizão para que dê mostras de determinação maior no combate à militância. "Precisamos impedir as pessoas de optarem pela militância. A maior falha da política de Musharraf era o fato de dar ênfase apenas à estratégia militar. Como é possível vencer uma luta contra seu próprio povo, e isso quando ele se opõe a você tão resolutamente?", disse Hasan em entrevista telefônica. Com o surto de baixas dos EUA e da Otan (aliança militar ocidental) no Afeganistão nos últimos meses, a Casa Branca e outros governos ocidentais têm criticado o Paquistão por não fechar os 2.400 km da porosa fronteira entre os dois.

Atentado
Os riscos criados pelos militantes islâmicos no Paquistão ganharam destaque ontem, quando ao menos 25 pessoas morreram num atentado suicida perto de um hospital em Dera Ismail Khan, cidade próxima à fronteira afegã. Segundo a polícia local, o ataque foi lançado por militantes sunitas ligados à Al Qaeda contra muçulmanos xiitas que estavam diante do hospital. As declarações de Hasan ecoam as opiniões de críticos da ênfase dada por Islamabad às operações militares. No último ano a CIA, agência de inteligência dos EUA, intensificou os vôos de aviões não tripulados e armados com mísseis sobre a região da fronteira. "Para o Paquistão, se as baixas no Afeganistão continuarem a subir, o risco maior é que cresça a pressão sobre os americanos para retaliar nas áreas da fronteira", disse um diplomata ocidental. "O Paquistão fará bem em assumir o controle dessa região. Pelo menos a população sentirá que o governo está tentando protegê-la e talvez não fique tão desiludida." O ex-comandante do Exército Abdul Qayyum disse que essa reorientação deve atingir também o Exército. "O Exército vem lutando na região da fronteira há seis anos e ainda não conseguiu frear os militantes. Talvez seja hora de conquistar os corações e mentes da população local, de fazer dela sua aliada", afirmou.

Tradução de CLARA ALLAIN



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