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Rival de presidente critica papel de Lula em referendo revogatório
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SANTANDER
A oposição boliviana se contém, mas não esconde a decepção com o presidente brasileiro
Luiz Inácio Lula da Silva, pelo
apoio dado a seu colega Evo
Morales, durante a campanha
para o chamado referendo revogatório.
"Não era o melhor comportamento", diz Jorge Quiroga, ex-presidente (2001/02), hoje líder do conservador Podemos,
em alusão ao fato de Lula ter
comparecido em julho a um ato
com Morales no departamento
de Beni, cujo governante (Ernesto Suárez) é um dos que
querem a autonomia e faz oposição a Morales.
"Seria o mesmo que um presidente de país vizinho comparecer a um ato, por exemplo, no
Rio Grande do Sul, ao lado do
presidente Lula, se ele estivesse
em confronto com o governador gaúcho", compara Quiroga.
Mas a crítica a Lula é matizada. O ex-presidente prefere
centrar seu ataque em Morales
e, em especial, no venezuelano
Hugo Chávez, que também
compareceu ao ato em Beni: "A
ingerência obscena é de Chávez. Os demais presidentes [da
região] mantêm-se em cânones
mais ou menos respeitosos".
Para Quiroga, Chávez usou
Lula como uma espécie de escudo para poder comparecer ao
comício pró-Morales. "Ele já
não se anima a vir sozinho",
acredita o ex-presidente, para
quem o repúdio ao líder venezuelano é muito forte na Bolívia. Pelo menos no departamento de Beni, deve ser mesmo, porque Evo Morales teve
apenas 43,7% dos votos no referendo revogatório de duas semanas atrás (no país todo, ficou
com mais de dois terços).
Quiroga acha que o resultado
do referendo -que confirmou
nos cargos tanto Morales quanto todos os principais governadores oposicionistas- "não
muda nada" na política boliviana. Como é natural em um líder
oposicionista, minimiza a importância política de o presidente ter obtido mais votos no
referendo do que na eleição
presidencial de 2005 (na qual,
aliás, Quiroga foi derrotado).
"No referendo, o eleitor escolhia apenas se queria que o presidente e os governadores saíssem ou ficassem. Não é comparável com as votações anteriores", diz Quiroga.
Constituição
Para ele, o que conta de fato
no cenário político boliviano é a
nova Constituição, cujo texto
foi aprovado em polêmica sessão realizada em um quartel e
só com parlamentares da situação. Agora, terá que ser submetida a referendo. "O decisivo é
saber se Morales pode impor
sua Constituição ou se se chegará a um pacto nacional por
uma Constituição para todos."
Quiroga acha "muito difícil"
que o governo tenha tempo e
apoio regional para aprovar a
Constituição já elaborada.
Compara com a situação no
Equador, país em que o processo de reelaboração constitucional começou 16 meses depois
de idêntico movimento na Bolívia e onde já está convocado
(para 28 de setembro) o referendo para aprová-la ou rejeitá-la. Na Bolívia, sempre segundo Quiroga, dificilmente o governo encontrará brecha legal
para levar a votação a nova Carta antes de dezembro de 2010.
O ex-presidente, cujo partido
está ameaçado de ilegalização
por não ter apresentado suficiente número de assinaturas
de apoio, nega, como também
era previsível, que os governadores departamentais tenham
se tornado o principal eixo de
oposição a Morales, atropelando os partidos tradicionais.
Para Quiroga, o relevo que os
governadores obtiveram nos
meses mais recentes se deve ao
fato de que estavam com seus
cargos em jogo, no referendo
revogatório. Daqui para a frente, acredita que a política voltará a seu trilho natural, que são
os partidos e o Congresso.
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