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Empresário diz que Chávez quer um "regime comunista"
DO ENVIADO ESPECIAL
Em abril passado, o empresário
Carlos Fenández Pérez assumiu a
presidência da Fedecámaras,
principal entidade empresarial da
Venezuela. Pérez substituiu o cargo antes ocupado por Pedro Carmona, o empresário que, ao liderar o golpe fracassado contra o
presidente Hugo Chávez, acabou
exilando-se na Colômbia depois
de dissolver o Congresso e o Judiciário.
Um dos líderes da greve geral
programada para amanhã, Pérez
disse que tentou inutilmente dialogar com Chávez e que o presidente quer uma "economia comunista". Já os defensores de
Chávez dizem que ele está rompendo privilégios das elites e favorecendo as classes mais pobres.
Na opinião de Pérez, a Venezuela só terá futuro se o presidente
deixar o poder.
Folha - O sr. diz que Chávez afugenta o capital estrangeiro e destrói a economia venezuelana. Mas
o presidente está pedindo aos venezuelanos que trabalhem, enquanto o sr. convocou uma greve
geral. Quem prejudica mais a economia do país: o governo ou a oposição, da qual o sr. faz parte?
Carlos Fernández Pérez - Chávez
quer implantar uma sociedade
"castróide" e uma economia comunista na Venezuela.
As perdas eventualmente causadas pela greve são minúsculas
comparadas com a destruição
que o presidente está provocando
na economia.
Queremos construir uma plataforma política que nos proteja do
caos, do centralismo e do estatismo que são contrários à Constituição e tiram da Venezuela as
condições de receber investimentos. Tenho me reunido com empresários de diversas câmaras de
comércio da Flórida para perguntar as razões pelas quais tiraram
tanto dinheiro do país. A resposta
é unânime: o dinheiro não vai voltar enquanto Chávez estiver no
poder.
Folha - O sr. cita a Constituição
para criticar Chávez, mas essa mesma Constituição dá ao presidente
um mandato popular constitucional. Não é golpismo exigir que Chávez saia do poder?
Pérez - Não somos golpistas.
Queremos uma consulta popular,
só isso. Queremos que a população se manifeste. Que diga se aceita seu empobrecimento, se aceita
a adoção de um regime comunista no país. A necessidade de uma
consulta popular no meio de um
mandato existe em várias sociedades democráticas.
Folha - A Constituição venezuelana permite essa consulta somente
no ano que vem. Por que não esperar até o ano que vem?
Pérez - Trata-se de uma situação
de emergência. A inflação aproxima-se de 30%, o desemprego vai
chegar a 20% e o presidente
ameaça constantemente violar a
propriedade privada.
Folha - Seu antecessor liderou o
golpe de Estado de abril passado,
assumiu a Presidência, dissolveu o
Congresso e o Judiciário. O sr. acha
que isso foi uma atitude democrática?
Pérez - Carmona saiu da entidade para realizar um projeto pessoal. Aquelas foram ações pessoais de um empresário, não
ações da entidade. Os empresários estão muito preocupados
com o que está acontecendo no
país. O crescimento da pobreza
está provocando uma "africanização" da Venezuela.
Folha - Logo após o retorno de
Chávez ao poder, o sr. aceitou conversar com o presidente e reuniu-se durante três horas com ele. Por
que o diálogo falhou?
Pérez - Depois de abril, dei a
Chávez o benefício da dúvida,
principalmente por seu discurso
conciliador. Disse a ele que os empresários temiam a "comunização" do país. Ele disse que não é
comunista, mas é de esquerda. O
encontro terminou amistoso. Sessenta dias depois, ele voltou a ser
agressivo e a incitar o enfrentamento.
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