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Seis governos em seis anos e ausência de respostas à crise econômica fazem crescer a inquietação no país
Descrença marca eleição no Equador hoje
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Desconfiados e indecisos, os
equatorianos vão hoje às urnas
para votar para presidente, numa
das disputas mais fragmentadas e
desacreditadas da história recente
do país. Até sexta-feira, quatro em
cada dez eleitores ainda não sabiam em quem votar, segundo
pesquisa do Cedatos-Gallup.
"Os eleitores estão inquietos, temem pelo seu futuro após a crise
que enfrentaram nos últimos
anos", afirma o analista Polibio
Córdoba, diretor do Cedatos-Gallup, em referência aos seis governos que o Equador teve em seis
anos e à mais grave crise econômica da história do país, que levou à dolarização da economia,
em janeiro de 2000.
Outra razão para a desconfiança
dos eleitores é a ausência de caras
novas, apesar de apenas 6% dos
equatorianos dizerem confiar em
sua classe política. Entre os candidatos, há dois ex-presidentes, dois
irmãos de ex-presidentes, um ex-ministro, um empresário milionário que é dono da maior fortuna do país e um coronel reformado com histórico golpista.
"Não tem havido renovação de
líderes, há uma repetição de figuras já conhecidas", afirma o cientista político Simón Pachano, da
Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), de Quito. "É um fenômeno estranho
-paradoxalmente, as pessoas se
queixam dos partidos e dos políticos tradicionais, mas voltam a votar neles."
Entre 11 candidatos, nenhum
ultrapassa 16% das intenções de
voto. Na última pesquisa, cinco
candidatos apareciam em situação de empate técnico, com ligeira vantagem para o ex-presidente
social-democrata Rodrigo Borja
(1988-1992), da Esquerda Democrática, com 16%.
Empatados com 12% apareciam
o socialista León Roldós, irmão
do presidente Jaime Roldós
(1979-1981), morto em um acidente de avião em 1981, o ex-ministro social-cristão Xavier Neira,
apoiado pelo ex-presidente León
Febres-Cordero (1984-1988), e o
coronel Lucio Gutiérrez, que liderou o golpe que derrubou o então
presidente Jamil Mahuad, em janeiro de 2000.
O milionário Álvaro Noboa,
derrotado por Mahuad no segundo turno em 1998, aparecia com
11% na pesquisa de sexta-feira,
depois de liderar por meses a corrida presidencial e ter atingido
um pico de 40%.
Também são candidatos Jacobo
Bucaram, irmão do ex-presidente
Abdalá Bucaram, conhecido como "El Loco", eleito em 1996 e
afastado do cargo pelo Congresso
em 1997 por "incapacidade mental", o líder indígena Antonio
Vargas, que participou do golpe
de 2000 ao lado de Gutiérrez, e o
ex-presidente Osvaldo Hurtado
Larrea (1981-1984), que era vice de
Jaime Roldós e assumiu o cargo
após sua morte.
Sem debate
Outra particularidade da campanha, que ajuda a explicar a razão de tanta indecisão, foi a ausência de debates mais aprofundados sobre temas cruciais para o
futuro do país, como a manutenção da dolarização com um déficit
comercial crescente pela perda de
competitividade das exportações,
a negociação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que
caberá ao próximo presidente, e a
corrupção endêmica, que custa ao
país US$ 2 bilhões ao ano, segundo estimativas.
"Pela primeira vez em muitos
anos temos tantos candidatos e
propostas tão similares entre
elas", diz o analista Juan Fernando Terán, do Centro Andino de
Estudos Internacionais, da Universidade Simón Bolívar. "Não
houve um debate aprofundado
dos projetos", diz.
A discussão dos grandes temas
deu lugar à apresentação de propostas mirabolantes e populistas,
como a garantia de emprego a todos os equatorianos, feita por Noboa, a compra de casas populares
com uma entrada de US$ 0,10 e
prestações mensais de US$ 10, feita por Bucaram, e a informatização total das escolas públicas,
mesmo em áreas sem energia elétrica e telefone, feita por Borja.
"As promessas são tão absurdas
que os eleitores não acreditam
mais", diz Polibio Córdoba.
Outro problema a ser enfrentado pelo próximo governo deve ser
a grande fragmentação partidária
no Congresso, que também será
renovado hoje. O sistema de votação adotado, que favorece a representação de minorias, deve intensificar essa fragmentação.
"O próximo presidente será certamente muito fraco, porque nenhum candidato deve passar ao
segundo turno com mais de 20%
dos votos, e encontrará um Congresso bastante dividido, com 15
ou 16 partidos representados",
avalia Simón Pachano.
A acumulação de problemas faz
Juan Terán ter uma expectativa
pessimista sobre o próximo governo: "Qualquer que seja o eleito, terá muitas dificuldades para
terminar o mandato". O que não
seria nenhuma novidade -os
dois últimos presidentes eleitos
não terminaram seus mandatos.
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