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ALEMANHA
Reeleito, chanceler assume nesta terça com o desafio de realizar mudanças sem tocar na rede de proteção social do país
Pressão por reformas é dilema de Schröder
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Diversas reformas são necessárias para dinamizar a economia
alemã, de acordo com cientistas
políticos, economistas, agentes do
mercado financeiro e representantes do patronato e dos trabalhadores consultados pela Folha.
O próprio chanceler (premiê)
Gerhard Schröder, reeleito há um
mês e que assume oficialmente
nesta terça-feira, surpreendeu e
indicou um superministro da
Economia e do Trabalho, o "superministro das reformas", antes
mesmo de apresentar o programa
de trabalho de sua coalizão, que
conta com seu Partido Social-Democrata (SPD) e com os Verdes.
Mas, se mudanças são necessárias, para a maioria da população
-o desemprego, maior preocupação dos alemães, é de 9,9%
(8,1%, segundo a metodologia da
União Européia)-, o escopo, a
dimensão e os agentes das reformas, além das áreas específicas
que serão atingidas, constituem
uma das maiores fontes de divergência da sociedade alemã.
De um lado, há os que defendem reformas estruturais, flexibilização do mercado de trabalho,
diminuição das contribuições sociais etc. Do outro lado, encontram-se os que preferem um aumento das despesas públicas, visando a dar o impulso primordial
para que a economia possa voltar
a crescer e apostando no lado social da economia de mercado.
Schröder obteve uma vitória esmagadora contra o democrata-cristão Helmut Kohl, em 1998,
graças a uma plataforma que prometia pôr fim ao Reformstau
(congestionamento de reformas),
que já emperrava a economia alemã à época. E conquistou a reeleição com base na promessa de dar
continuidade às reformas.
Seu maior problema é que ele
está no meio da disputa visceral
que opõe uma corrente à outra.
"Ante as circunstâncias internacionais, podemos dizer que o
chanceler fez um governo bastante razoável, mas ele terá de tomar
decisões bem mais controversas
agora", apontou Manfred Nitsch,
da Universidade Livre de Berlim.
Outro entrave é que, após a eleição de 22 de setembro último,
Schröder conta com uma maioria
bem menos expressiva no Bundestag (Parlamento), o que, certamente, dificultará sua tarefa. O
SPD perdeu 47 cadeiras em relação a 1998, obtendo apenas 38,5%
dos votos, a mesma porcentagem
da aliança oposicionista formada
pela União Democrata Cristã
(CDU) e pela União Social Cristã
(CSU), que conquistou três cadeiras a mais do que há quatro anos.
Os Verdes foram o fiel da balança no pleito de setembro, garantindo, com sua vitória sobre os liberais do FDP, a reeleição da coalizão governamental. Eles ficaram
com oito cadeiras a mais do que
na última eleição. Assim, ganharam força na administração embora não tenham obtido mais um
posto de ministro (permanecem
com os três que já tinham). Joschka Fischer, ministro das Relações
Exteriores, mantém-se no cargo.
"Schröder terá de demonstrar
habilidade política se quiser introduzir as reformas que considera necessárias. Afinal, ele se elegeu
graças aos votos das classes trabalhadoras, que, naturalmente, não
aceitam abrir mão da rede de proteção social à qual têm direito.
Trata-se de um tema delicado,
pois esses benefícios começaram
a ser obtidos na segunda metade
do século 19, sob o comando do
chanceler Otto von Bismarck",
explicou Gerhard Göhler, da Universidade Livre de Berlim.
Combate ao desemprego
Para combater o desemprego,
que é o ponto mais fraco do balanço de seu primeiro governo,
Schröder pretende aplicar todas
as medidas previstas nos planos
concebidos por Peter Hartz, diretor de pessoal da Volkswagen,
tendo, para tanto, indicado Wolfgang Clement, governador do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, para ocupar o Ministério da
Economia e do Trabalho.
Todavia tanto a classe patronal
quanto os sindicatos de trabalhadores concordam em que os planos de Hartz só podem resolver
parte da questão. "As propostas
de Hartz não atingem a essência
do problema do desemprego, que
é a impossibilidade de criar novas
vagas sem que haja um crescimento econômico considerável",
apontou Alfred Boss, do Instituto
para Economia Mundial de Kiel.
"As propostas de Hartz terão
forte impacto sobre o desemprego, já que visam a acelerar o processo de ocupação de postos livres
pelos desempregados. Contudo é
importante salientar que elas não
solucionarão a questão do desemprego estrutural, pois não buscam
criar novos empregos", avaliou
Wolfgang Scheremet, economista-chefe da Federação dos Sindicatos da Alemanha.
"O problema real é que, na melhor das hipóteses, há 1,5 milhão
de postos que poderão ser ocupados assim. Os outros 2,5 milhões
de desempregados só serão atingidos se o governo fizer reformas
estruturais, como a redução dos
tributos que pesam sobre as empresas", analisou Matthias Schoder, diretor de economia da Federação das Câmaras de Comércio e
Indústria da Alemanha.
Ademais, Schröder sabe que esse é apenas um dos vários desafios
que terá de enfrentar. Restam, entre outros, a reestruturação das
instituições européias, as reformas educacional e da saúde e o esfriamento das relações entre Washington e Berlim.
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