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EUA
Desaquecimento da economia e prejuízos com o 11 de setembro tornam difícil cobrir déficit de US$ 5 bi, afirma Bloomberg
Nova York pode falir, adverte o prefeito
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Nova York, a cidade mais rica e
poderosa do país mais rico e poderoso do mundo, pode quebrar.
Se não conseguir arrecadar ou
economizar os US$ 5 bilhões que
devem compor o déficit do orçamento de 2003, vai dar o primeiro
passo em direção à falência.
Foi isso que disse com todas as
letras o prefeito Michael Bloomberg, em seu mais recente programa semanal de rádio, o que fez
com que os nova-iorquinos mais
antigos se lembrassem, não sem
um arrepio na espinha, do clima
no final dos anos 70.
Foi então que Nova York literalmente pediu concordata, levando
as maiores empresas a fugir na
década seguinte.
Como consequência, os anos 80
viram o desemprego explodir na
cidade e a taxa de criminalidade e
o índice de violência subirem aos
céus.
"That 70s Show!", fez trocadilho
a manchete do semanário "The
New York Observer", usando o
nome do seriado cômico de TV
para se referir ao estado financeiro atual. Foi a deixa para que a
opinião pública passasse a procurar o(s) culpado(s).
A explicação oficial de Bloomberg relaciona os dois suspeitos
de sempre: o desaquecimento da
economia, que já vinha fazendo
estragos desde o começo de 2001,
e o ataque de 11 de setembro, que
minou ainda mais o turismo, espantou empresas para a vizinha
Nova Jersey e pode ter custado até
US$ 3 bilhões à cidade.
Na semana passada, pela primeira vez, o prefeito disse que
mesmo as contas deste ano podem terminar no vermelho. "Dependendo do que acontecer até
dezembro, poderemos ter um pequeno déficit já", disse ele. Trabalha-se com um valor de US$ 350
milhões negativos.
O que o prefeito não fala, mas
seus auxiliares vem deixando escapar para a imprensa, é que dez
meses de governo, que é o tempo
em que Bloomberg está no cargo,
não poderiam ter produzido nem
o déficit deste ano nem o de 2003.
Assim, embora ninguém ainda
tenha tido coragem de dizer com
todas as letras, o culpado começa
a ganhar nome e sobrenome: Rudolph Giuliani. O ex-prefeito, que
comandou a cidade por dois
mandatos seguidos até dezembro
passado e virou herói por sua
atuação depois de 11 de setembro,
teria aberto demais a mão.
A torneira de dólares de sua gestão estaria principalmente em
dois setores: foram concedidos
mais benefícios fiscais do que recomenda a prudência e a folha de
pagamento municipal inchou,
principalmente na polícia, que
bateu um recorde de 41 mil soldados uniformizados.
O problema agora, diz Bloomberg, do mesmo partido (Republicano) de Giuliani, é tentar consertar o futuro, e não ficar olhando para o passado. Corte de despesa é um dos caminhos, afirma,
mas só isso não resolve.
Segundo os cálculos de Bloomberg, o prefeito tem controle direto sobre apenas US$ 14 bilhões
dos US$ 42 bilhões anuais que
compõe o orçamento. "Há muito
pouco espaço de manobra aí para
cortar US$ 5 bilhões", disse ele.
Sobra apenas uma alternativa
efetiva: aumentar impostos. De
novo, altos funcionários da administração Bloomberg dão sinais
de que o prefeito pensa em elevar
em até 25% o imposto de propriedade, equivalente ao IPTU.
Para fazer isso, o prefeito teria
de mandar proposta à Câmara e
aguentar a reação negativa que
certamente viria da população,
reação nada bem-vinda em ano
de voto, quando outro companheiro de partido, o governador
George Pataki, luta pela reeleição.
Em entrevista coletiva, indagado sobre se iria elevar impostos,
Bloomberg foi enigmático: "Você
não pode cortar US$ 5 bilhões
apenas do total que a prefeitura
controla. Próxima pergunta".
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