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Ofensiva contra milícia aterroriza civis no Quênia
Violência em Monte Elgon expulsou cem mil de suas casas; eleição agravou crise
Relação estratégica com Nairóbi impede que ONU reconheça zona como parte dos conflitos pós-eleitorais e envie auxílio, afirma ONG
CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO
As Forças Armadas do Quênia torturam civis na ofensiva
contra milicianos no distrito
fronteiriço de Monte Elgon,
afirmam organizações de defesa de direitos humanos quenianas e internacionais. Iniciada
em março, a operação acuou a
Força de Defesa da Terra Sabout (FDTS), milícia que dominava a região havia mais de um
ano e apoiou partidários locais
do Movimento Democrático
Laranja no pleito presidencial.
O conflito em Monte Elgon já
forçou até 100 mil pessoas a
deixarem suas casas, estima
Ben Rawlence, que compilou o
relatório da HRW (Human
Rights Watch) sobre abusos da
FDTS e do Exército. Os flagelados recebem pouca ou nenhuma assistência internacional.
"O caso da ONU é um dos
mais emblemáticos", disse
Rawlence à Folha. "A ONU auxilia as vítimas dos conflitos
pós-eleitorais [que levaram o
país à beira da guerra civil no
início deste ano e foram contornados por um acordo de divisão de poder]. Mas, por causa
das relações com o governo
queniano, ela não descreve
Monte Elgon como parte do fenômeno e por isso não manda
assistência para lá." Uma das
sedes internacionais da ONU, o
Quênia é base de grande parte
das operações humanitárias no
continente africano.
Relatório da ONG Médicos
Sem Fronteiras (MSF) lançado
na terça-feira aponta abusos
sistemáticos aos direitos humanos e documenta o aumento
dos casos de torturas com a
presença do Exército. Intitulado "Monte Elgon: quem se importa?", o documento cobra
mais auxílio para a região.
A brasileira Cristiane Tsuboi, 28, se importa. Há quatro
meses no Quênia, a médica,
que já trabalhou no Hospital
das Clínicas de São Paulo (referência em trauma) e atendeu
comunidades ribeirinhas na
Amazônia, conta que não pode
comparar a realidade de Monte
Elgon a qualquer coisa que tenha visto no Brasil. "Aqui, ao
problema crônico de acesso aos
serviços médicos soma-se a
violência, que isola as pessoas
em vilarejos e as impede de
buscar ajuda mesmo em casos
muito graves", disse à Folha,
por telefone, a médica do MSF.
Governo nega excessos
Os abusos em Monte Elgon
foram denunciados pela comissão independente encarregada
pela lei queniana de promover
os direitos humanos. Para o
procurador-geral Amos Wako,
porém, as informações do relatório são "intangíveis".
À HRW o chefe de polícia de
Monte Elgon, Birik Mohammed, disse que a ofensiva ocorreu "como previsto" e que não
recebeu queixas de abusos -segundo a HRW, no momento da
conversa, havia diante do escritório de Mohammed uma fila
de pessoas que diziam estar ali
para relatar casos de tortura.
Numa contra-ofensiva midiática, a TV queniana exibe
imagens de moradores que descrevem abusos da FDTS. Segundo relatos das mesmas organizações que apontam abusos do Exército, os senhores da
guerra da FDTS arregimentavam jovens pobres para a mílicia e aterrorizavam a população, impondo impostos e confiscando terras de opositores.
"É uma situação parecida
com a observada em outros locais de conflito, da Colômbia à
Tchetchênia. A FDTS não conta com apoio popular, mas,
quando o Exército intervém e
começa a abusar dos direitos
humanos, a simpatia da população pelas milícias locais cresce", comenta Thomas Cargil,
gerente operacional na África
do instituto de pesquisas internacionais Chatham House.
Com agências internacionais
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