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VIZINHO EM CRISE
Após sobreviver a pico da crise, governo ainda luta contra desestabilização promovida por ex-general
Paraguai tenta se livrar de sombra de Oviedo
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Passado mais um período crítico na crise ininterrupta vivida pelo governo paraguaio, o presidente Luiz González Macchi luta para
tentar se livrar da sombra do ex-general Lino Oviedo e concluir
seu mandato, em agosto de 2003.
González Macchi, que segundo
as pesquisas é rechaçado por 8 em
cada 10 paraguaios, saiu ligeiramente fortalecido dos episódios
das últimas semanas, quando
protestos supostamente organizados por Oviedo deixaram dois
mortos e dezenas de feridos e o
obrigaram a decretar um estado
de exceção, que durou dois dias.
Os analistas são unânimes em
afirmar, porém, que a instabilidade vivida por González Macchi
desde que assumiu o cargo, em
março de 1999, continuará sendo
uma constante no período que lhe
resta. E pode ameaçar também o
próximo governo.
"Se o governo não conseguir
mudar os rumos da economia,
não acabar com a corrupção nos
altos escalões e não combater a
violência, o oviedismo seguirá
sempre como uma força latente a
pairar como uma ameaça de desestabilização para qualquer governo, esteja Oviedo onde estiver", afirma o analista político
Carlos Martini, professor da Universidade Católica de Assunção.
O Produto Interno Bruto (PIB)
do país caiu mais de 20% nos últimos cinco anos e o desemprego
ronda a casa dos 19%. A população pobre chegaria, segundo estimativas, a 50% nas áreas urbanas
e a até 85% nas áreas rurais.
O governo também é alvo de denúncias de corrupção. No ano
passado, a imprensa local descobriu que González Macchi usava
um carro BMW que havia sido
roubado em 1998 no Brasil. Ele já
foi alvo de dez pedidos da oposição para a abertura de processos
de impeachment por corrupção.
A esses problemas adiciona-se a
falta de legitimidade política de
González Macchi, que não foi eleito pelo voto direto. Ele assumiu o
cargo na condição de presidente
do Congresso, após o assassinato
do vice-presidente Luis María Argaña e a renúncia do então presidente, Raúl Cubas Grau. Cubas e
Oviedo são acusados de cumplicidade no assassinato de Argaña.
O presidente González Macchi
assistiu ainda à eleição direta, em
2000, de um opositor, Julio César
Franco, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), ao cargo de
vice-presidente, com o apoio dos
oviedistas. A eleição de Franco
abalou a hegemonia do Partido
Colorado, de González Macchi,
que governa o Paraguai ininterruptamente há 55 anos.
O atual quadro permite prever
um caminho difícil do Paraguai
rumo à eleição presidencial, prevista para maio. Uma vez mais,
Oviedo será a grande sombra.
O ex-general, que aparece em
algumas pesquisas como o preferido dos paraguaios para ocupar a
Presidência, não pode ser candidato. Condenado a dez anos de
prisão pela tentativa de golpe, em
1996, contra o então presidente,
Juan Carlos Wasmosy, ele permanece exilado no Brasil e não tem
perspectivas de conseguir uma
anistia para poder retornar ao Paraguai e lançar sua candidatura.
Para os analistas, a aposta de
Oviedo continuará sendo a derrubada de González, para que Franco assuma e o anistie. Caso não
consiga, deve lançar a candidatura de um testa-de-ferro, pela Unace (União Nacional dos Cidadãos
Éticos, dissidência formada pelos
oviedistas no Partido Colorado),
que o anistie mais tarde.
"Caso Oviedo não consiga ser
candidato, lançará um nome para
vencer a eleição. Ele já provou que
é um grande eleitor, quando
apoiou a candidatura de Franco à
Vice-Presidência", disse à Folha o
principal líder oviedista no Paraguai, Carlos Galeano Perrone.
Os principais líderes colorados
admitem que Oviedo será sempre
uma sombra para o atual governo
-e, eventualmente, para os próximos-, mas apostam numa
ação do governo brasileiro para limitar as atividades políticas do
ex-general e as suas articulações
para desestabilizar o governo.
Para o senador Armínio Cáceres, primeiro vice-presidente do
partido, não existe nenhuma possibilidade de que Oviedo possa
voltar livremente ao país e se candidatar à Presidência. "Ele está
condenado, deve vir para cá para
cumprir sua pena", afirma.
Para Cáceres, o oviedismo não
conseguirá eleger o próximo presidente. "Pelas nossas pesquisas,
Nicanor Duarte Frutos [presidente do Partido Colorado" tem 46%
das intenções de voto, e um candidato oviedista teria 22%", diz.
Para os analistas, a principal
perspectiva é a de uma aliança entre a Unace e o PLRA para tentar
quebrar a hegemonia do Partido
Colorado na eleição.
"A hipótese de os colorados elegerem o próximo presidente é pequena", diz o oviedista Galeano.
"Mas, se acontecer, o próximo
presidente não vai ter maioria
parlamentar, porque a Unace vai
ter uma participação importante
no próximo Congresso", afirma.
Outsider
A ameaça de Oviedo sobre os
governantes paraguaios poderia
ser afastada, na visão dos analistas, se houvesse uma melhoria nas
condições econômicas.
"As pesquisas indicam que a liderança de Oviedo, mais que um
apoio irrestrito a ele, é um voto
contra o governo", afirma o analista José Nicolás Morinigo, colunista do jornal "Última Hora".
Para o professor Carlos Martini,
a popularidade de Oviedo é explicada pelas mesmas razões "que
explicam o êxito de outsideres em
outros países latino-americanos
que sofriam graves problemas
econômicos". "São esperanças
em soluções rápidas e milagrosas
após governos fracassados", diz.
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