São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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Lula insta Morales a começar diálogo com a oposição

Presidente fala da "extraordinária" vitória do boliviano no referendo e defende que Brasil, Argentina e Colômbia voltem a mediar crise

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO GONÇALO DO AMARANTE (CE)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o chefe de Estado boliviano, Evo Morales, obteve uma "vitória extraordinária" no referendo que lhe confirmou no cargo no último dia 10 e conclamou o colega a "tomar a iniciativa" de dialogar com a oposição.
"Ele teve uma vitória extraordinária no referendo, portanto penso que agora deve tomar a iniciativa de construir o processo de conversação com os outros setores para construir a paz", disse Lula, que afirmou ter telefonado ao boliviano depois da consulta.
Lula instou Brasil, Argentina e Colômbia, que formam o "grupo de amigos" convocado por Morales para tentar mediar a arrastada crise política, "a fazer gestões para que todos os setores que estão brigando se coloquem de acordo". Até agora, as tentativas de mediação do grupo fracassaram.
O referendo revogatório na Bolívia deu vitória simultânea a Morales, que alcançou 67% dos votos, e aos quatro principais governadores da oposição.
As declarações de Lula vêm após as críticas feitas à Folha pelo ex-presidente boliviano Jorge Quiroga, líder do Podemos, o principal partido opositor, por seu apoio a Morales durante a campanha do referendo. Lula visitou Beni, um departamento de oposição, em julho, durante a tensa temporada pré-eleitoral.
"Sempre digo a meus amigos presidentes da América do Sul que só existe uma possibilidade de um país crescer: é com muita paz", declarou. "Se você gastar energia com problemas internos, vai fazer com que o país fique paralisado", disse Lula ao ser questionado sobre o tema em São Gonçalo do Amarante (a 60 km de Fortaleza, CE).
O presidente participava do lançamento do terminal de gás natural liquefeito (GNL) no porto de Pecém. A unidade deixa o Brasil menos dependente do gás da Bolívia, seu principal fornecedor do combustível.
Sobre o tema, Lula afirmou que o país não deixará de comprar o produto do vizinho, mas que está criando alternativas para reduzir a dependência.

Golpe e deficientes
Ontem, Morales voltou a dizer que a oposição tenta "um golpe civil" contra ele com ações de protesto. Os atos contra o governo continuaram em três departamentos controlados pela oposição: no pólo econômico de Santa Cruz e nos amazônicos Pando e Beni.
Arregimentados por políticos e empresários, militantes bloquearam estradas, mas não foram registrados confrontos.
Apesar de repetir que está aberto ao diálogo, o presidente boliviano disse que continuará com sua política de redistribuir a renda do gás, um dos focos da crise com as regiões.
Oficialmente, cinco capitais de departamentos opositores pararam anteontem para exigir que La Paz devolva às regiões parte de um imposto sobre o combustível, redirecionado para pagar um benefício a idosos.
Também ontem, o Congresso da Bolívia aprovou um fundo de US$ 5,6 milhões destinado aos deficientes físicos do país, que protestam há mais de um mês no país e entraram ao menos duas vezes em confronto com a polícia. O grupo rejeita o fundo e defende benefício de US$ 400 anuais, nos moldes de programas de Morales para crianças e idosos.

Com a Redação e agências internacionais



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