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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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Brasil sai da rota internacional com aumento das adoções domésticas

DA REDAÇÃO

Enquanto o número de adoções internacionais no mundo dobrou do início dos anos 90 para cá, o Brasil, que figurava entre as principais fontes de crianças para a adoção por estrangeiros hoje não está nem entre os 20 primeiros.
Especialistas ouvidos pela Folha apontam o aumento das adoções domésticas e uma lenta mas progressiva mudança na cultura de adoção do país como os principais fatores para essa redução.
A ratificação da Convenção de Haia em 1993, que redobrou a vigilância sobre os processos, também é um fator preponderante.
E, finalmente, pesa o fato de terem surgido outras fontes de crianças para a adoção -sobretudo na Europa, onde o colapso do socialismo e as sucessivas guerras na antiga Iugoslávia fizeram crescer o número de crianças órfãs e abandonadas. Para os pais de países da Europa ocidental -o maior destino das crianças brasileiras-, ter filhos culturalmente mais próximos é mais atraente.
Gabriela Schreiner, diretora-executiva do CeCif (Centro de Capacitação e Incentivo à Formação para o trabalho de apoio à convivência familiar), calcula que hoje existam cerca de 200 mil crianças. Dessas, de 3% a 4% estariam aptas à adoção -as demais ainda mantêm vínculos familiares e não podem ser recolocadas. Das que podem ser adotadas, menos que a décima parte -ou a vigésima- vai para a adoção internacional.
Isso porque uma criança, no Brasil, só é encaminhada para a adoção internacional quando não consegue colocação no país.
O perfil é invariavelmente de crianças mais velhas -no caso da adoção, "mais velhas" significa a partir de dois anos-, na maioria dos casos negras, eventualmente com histórico médico ou familiar problemático.
Grupos de irmãos, para evitar separações, também são mais facilmente colocados em famílias estrangeiras, que devido ao poder aquisitivo mais alto têm maior possibilidade de adotar mais de uma criança de uma vez.
"A adoção no Brasil ainda é uma coisa meio mística, meio folclórica. As pessoas que vão adotar, ainda que isso esteja mudando, buscam o filho que não tiveram", disse o juiz Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, do Cejai (Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional) de São Paulo, que conta com um cadastro de 200 casais estrangeiros esperando por filhos brasileiros.
Gabriela, no entanto, desfaz um mito. "Não é que os estrangeiros sejam mais flexíveis. É que só chegam aqui os poucos que já passaram por esse processo em seu país de origem e estão dispostos a aceitar qualquer criança." (LC)


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