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Brasil sai da rota internacional com aumento das adoções domésticas
DA REDAÇÃO
Enquanto o número de adoções
internacionais no mundo dobrou
do início dos anos 90 para cá, o
Brasil, que figurava entre as principais fontes de crianças para a
adoção por estrangeiros hoje não
está nem entre os 20 primeiros.
Especialistas ouvidos pela Folha
apontam o aumento das adoções
domésticas e uma lenta mas progressiva mudança na cultura de
adoção do país como os principais fatores para essa redução.
A ratificação da Convenção de
Haia em 1993, que redobrou a vigilância sobre os processos, também é um fator preponderante.
E, finalmente, pesa o fato de terem surgido outras fontes de
crianças para a adoção -sobretudo na Europa, onde o colapso
do socialismo e as sucessivas
guerras na antiga Iugoslávia fizeram crescer o número de crianças
órfãs e abandonadas. Para os pais
de países da Europa ocidental -o
maior destino das crianças brasileiras-, ter filhos culturalmente
mais próximos é mais atraente.
Gabriela Schreiner, diretora-executiva do CeCif (Centro de Capacitação e Incentivo à Formação
para o trabalho de apoio à convivência familiar), calcula que hoje
existam cerca de 200 mil crianças.
Dessas, de 3% a 4% estariam aptas à adoção -as demais ainda
mantêm vínculos familiares e não
podem ser recolocadas. Das que
podem ser adotadas, menos que a
décima parte -ou a vigésima-
vai para a adoção internacional.
Isso porque uma criança, no
Brasil, só é encaminhada para a
adoção internacional quando não
consegue colocação no país.
O perfil é invariavelmente de
crianças mais velhas -no caso da
adoção, "mais velhas" significa a
partir de dois anos-, na maioria
dos casos negras, eventualmente
com histórico médico ou familiar
problemático.
Grupos de irmãos, para evitar
separações, também são mais facilmente colocados em famílias
estrangeiras, que devido ao poder
aquisitivo mais alto têm maior
possibilidade de adotar mais de
uma criança de uma vez.
"A adoção no Brasil ainda é
uma coisa meio mística, meio folclórica. As pessoas que vão adotar, ainda que isso esteja mudando, buscam o filho que não tiveram", disse o juiz Reinaldo Cintra
Torres de Carvalho, do Cejai (Comissão Estadual Judiciária de
Adoção Internacional) de São
Paulo, que conta com um cadastro de 200 casais estrangeiros esperando por filhos brasileiros.
Gabriela, no entanto, desfaz um
mito. "Não é que os estrangeiros
sejam mais flexíveis. É que só chegam aqui os poucos que já passaram por esse processo em seu país
de origem e estão dispostos a aceitar qualquer criança."
(LC)
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