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VISÃO ISRAELENSE
Historiador aponta a
separação como solução
DA REDAÇÃO
Israelenses e palestinos devem
ser separados por uma barreira
para que exista a menor fricção
possível entre as duas populações.
É o que diz o historiador israelense Benny Morris, 55, que no final
dos anos 80 foi preso por se recusar a servir como soldado nos territórios ocupados.
Morris é autor de um livro que
causou furor em Israel, "The Birth
of Palestinian Refugee Problem"
(o nascimento do problema dos
refugiados palestinos), de 1987,
no qual comprova que o país expulsou grande número de palestinos de seu recém-criado Estado
em 1948.
De um intelectual mais próximo
ao campo dos que buscavam a
paz, Morris transformou-se num
cético. "O que os israelenses
aprenderam é que não podem
confiar nos palestinos. A maioria
dos israelenses quer uma separação completa", disse, em entrevista por telefone à Folha de Tel
Aviv.
(OD)
Folha - O que acha da barreira?
Benny Morris - É necessária.
Quando estiver completa, será
muito difícil atingir alvos israelenses. Mas deve ser construída
mais ou menos ao longo da fronteira anterior à guerra de 1967. A
direita israelense, inclusive o premiê Ariel Sharon, tentou usar a
cerca para tomar terras palestinas, mas a pressão externa e interna fará com que ela se situe próxima à antiga fronteira.
Folha - É difícil imaginar uma cerca separando duas populações que
vivem tão perto, quase juntas.
Morris - Infelizmente, essa terra
é muito pequena e há dois povos
vivendo nela. A melhor solução
para ambos são dois Estados. Em
um deles, existe uma sociedade
que quer enviar seus filhos para se
explodirem nas cidades do vizinho. Não temos outra saída a não
ser impedir isso. Se terroristas
cruzassem a fronteira do Paraguai
com o Brasil para se explodir em
São Paulo, vocês também ergueriam uma cerca de segurança.
Folha - A partir dos acordos de Oslo (1993), houve um certo grau de
cooperação entre israelenses e palestinos. Isso não mostra ser possível uma solução menos radical?
Morris - O que os israelenses
aprenderam é que não podem
confiar nos palestinos, nem nos líderes nem nas pessoas. A maioria
dos israelenses quer uma separação completa. Os palestinos nos
forçaram a isso. Os dois povos devem ser separados de forma a haver a menor fricção possível.
Folha - Então não é mais possível
apostar num processo de paz?
Morris - Sou pessimista quanto à
paz com os palestinos. A maior
parte deles quer destruir Israel.
Sou a favor de um acordo final, no
qual seja criado um Estado palestino em quase toda a faixa de Gaza
e a Cisjordânia. Eles que fiquem
do lado deles, que cuidem da vida
deles. E nós faremos o mesmo.
Folha - E as colônias judaicas nos
territórios palestinos?
Morris - Devem ser removidas
da Cisjordânia e de Gaza. As que
ficam muito perto da fronteira devem ser anexadas em troca de
concessões de terras aos palestinos em outras áreas.
Folha - Em entrevista ao jornal
"Haaretz", o sr. disse que, em 1948,
os líderes israelenses deveriam ter
expulsado todos os palestinos do
recém-criado Estado de Israel. Pode explicar sua opinião?
Morris - É simples. Se a guerra de
1948 tivesse acabado de forma
mais clara, com a população judaica a oeste do rio Jordão e os palestinos do lado leste, os palestinos teriam um Estado na Jordânia
ou a Jordânia teria se tornado o
Estado deles. E o Oriente Médio
viveria uma situação mais calma.
Folha - Mas, para um historiador,
a solução parece muito simplista.
Morris - Nada é simples. Mas dou
um exemplo: nos anos 20, havia
uma grande minoria de gregos na
Turquia e uma grande minoria de
turcos na Grécia. Houve uma
guerra. Os turcos expulsaram os
gregos, e os gregos expulsaram os
turcos. E os dois países têm vivido
em relativa paz desde então. É um
exemplo de transferência de população que foi benéfica.
Folha - É possível falar em bom
exemplo quando se fala em limpeza étnica?
Morris - Não estou dizendo que
isso deveria ocorrer ao redor do
mundo, mas, em certos momentos da história, esse tipo de transferência pode ter sido benéfica.
Mas não estou sugerindo que isso
seja feito agora por Israel, seria
imoral, impraticável. Estou apenas dizendo que, se tivesse ocorrido em 1948, a vida de ambos os
povos teria sido melhor.
Folha - Uma solução como essa
poderia ser aceita pelos israelenses, que teriam o melhor quinhão.
Mas acho que os palestinos não estariam contentes se tivessem sido
empurrados para a Jordânia.
Morris - Os palestinos nunca estão felizes. Só atingirão a felicidade quando destruírem Israel.
Mas, como historiador, vejo que
os dois povos sofreram imensamente porque os resultados da
guerra de 1948 não foram claros.
Folha - Quando falamos de limpeza étnica, transferência de populações, cerca de separação, tocamos
em símbolos muito perigosos.
Morris - Entendo o que você está
dizendo, mas quero ficar o mais
longe possível de terroristas suicidas. É mais importante para mim
do que símbolos.
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