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VISÃO PALESTINA
Estado palestino fica
inviável, diz professor
DA REDAÇÃO
Israel tem o direito de defender
seus cidadãos, mas a barreira israelense, tal como foi projetada,
expressa o compromisso do governo Sharon de impedir a criação de um Estado palestino viável.
É a opinião do palestino Said
Zeedani, 54, diretor-geral da Comissão Independente Palestina
para os Direitos dos Cidadãos.
"Para os palestinos, a barreira é
mais política do que de segurança", diz Zeedani, professor licenciado de filosofia da Universidade
Al Quds, em Jerusalém oriental
(árabe). Leia trechos de entrevista
por telefone, de Ramallah.
(OD)
Folha - Israel tem a obrigação de
proteger seus cidadãos de ataques
terroristas. Qual é a sua opinião sobre a barreira que o país ergue para
se proteger dos homens-bomba?
Said Zeedani - Ninguém nega o
direito de um Estado de proteger
seus cidadãos. Mas há o problema
da rota da cerca, que envelopa a
Cisjordânia e anexa parte de nosso território. Outra coisa: não há
um acordo definitivo sobre onde
é a fronteira israelo-palestina. Ao
construir o muro unilateralmente, Israel define algo que não está
definido. E há o efeito negativo
sobre os direitos dos palestinos.
Folha - Dê um exemplo.
Zeedani - A cidade de Qalqilya
ficará completamente cercada, e
os 60 mil habitantes terão portões
para entrar e sair. Será uma grande prisão. Mais de 12 mil palestinos moram a oeste da barreira, do
lado israelense, entre o muro e a
fronteira antes da guerra de 1967.
Não poderão ir para Israel, a oeste, nem para a Cisjordânia, a leste,
sem permissão especial. Houve
um confisco de terra, redes de
imigração foram destruídas, árvores de cultivo e plantações.
O governo Sharon tenta combinar a segurança a um elemento
ideológico. Ao definir a rota do
muro, expressa seu compromisso
de impedir a criação de um Estado palestino viável, geograficamente contíguo, com sua capital
em Jerusalém oriental. Para os palestinos, a barreira é mais política
do que de segurança.
Folha - Os terroristas suicidas
prejudicam a causa palestina?
Zeedani - Sou diretor de uma entidade de direitos humanos. Acreditamos que civis nunca devam
ser alvo num conflito. Entretanto
pessoas de outros países não
compreendem exatamente nossa
situação. Veja bem: não quero
justificar, mas apenas explicar as
coisas. O terrorismo, não apenas
na Palestina, é, em geral, a arma
da parte mais fraca. Israel é o
Exército mais forte da região.
Você sabe o que significa estar
sob ocupação? Toda a sua vida é
controlada: seu trabalho, seus
movimentos, suas necessidades
básicas, suas relações familiares.
Quando você é a parte fraca, e
está sujeito a uma ocupação extremamente prolongada, quando
o inimigo diz que sua terra pertence a ele, quando existe um processo de paz que após sete ou oito
anos não trouxe os resultados esperados, sem falar do desemprego, da falta de oportunidades, tudo se soma para criar um tal nível
de frustração e de ressentimento
que acaba desembocando em todos os tipos de atos irracionais de
resistência. A única saída é dar esperança às pessoas. Por isso, o
processo de paz é tão vital.
Folha - A ANP deveria atuar com
mais energia para recuperar o controle sobre o processo de paz?
Zeedani - Antes do início da Intifada, a ANP foi relativamente exitosa em impedir a atuação de grupos terroristas. Mas, com a explosão da revolta palestina, eles perderam parte dessa capacidade e
do apoio moral para enfrentar essas pessoas. As pessoas dizem
"nós estamos dando a nossa vida
por nossa causa, enquanto vocês,
as lideranças políticas, falharam".
Na primeira fase da Intifada, e
acho importante reconhecer isso,
pouco foi feito para impedir ataques terroristas. Mas, posteriormente, os líderes já não tinham
capacidade real e política para
agir devido à reocupação da Palestina. Os israelenses estão em
todo lugar e, se eles não conseguem controlar os terroristas, como a ANP pode fazer isso?
Folha - Com o processo de paz
bloqueado, Israel, sob o governo
Sharon, parece estar caminhando para uma solução unilateral.
A barreira é parte disso. O possível desmantelamento de assentamentos em Gaza é outro. Mas,
se não houver negociação, os palestinos certamente perderão,
pois Israel é mais forte.
Zeedani - Toda a Cisjordânia e a
faixa de Gaza estão ocupadas. O
que mais podemos perder? É preciso compreender que não é possível derrotar os palestinos. Não é
possível derrotar um povo que está lutando por sua independência
e por seu Estado. Pode-se derrotar um Exército, um regime, um
grupo de militantes, mas não toda
uma população determinada a ser
independente.
Não há outra saída a não ser dividir a terra de forma mais justa
possível e ver como os dois povos
podem viver lado a lado como
bons vizinhos, em cooperação,
sem vencedores ou perdedores.
Os israelenses também estão
aprendendo algo com esta Intifada. Não é possível derrotar os palestinos pela força bruta. Não há
soluções unilaterais. O único jeito
de superar o conflito é com um
acordo político amplo.
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