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SUCESSÃO NOS EUA/ GUERRA SEM LIMITES
Viagem de Obama causa crise entre Bagdá e Casa Branca
Premiê iraquiano apóia prazo de retirada de democrata, recua e é reafirmado por fita
Assessora de Bush diz que "negociar pela imprensa" não é meio de obter acordo e dilata prazo para tratado que permitirá permanência
Lorie Jewell/Relações Públicas das Forças Multinacionais no Iraque/Reuters
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Obama sobrevoa Bagdá com o general David Petraeus, comandante dos EUA na região, em sua primeira visita ao país em dois anos
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
A visita de Barack Obama ontem ao Iraque, a primeira do
candidato democrata à sucessão de George W. Bush como
tal, colocou em crise as negociações atuais entre o governo
daquele país e a Casa Branca.
Numa sucessão de afirmações e negativas, o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, apoiou de fato o prazo do
democrata de 16 meses para retirada das tropas norte-americanas do país, o que irritou o
presidente republicano, com
quem o líder árabe vem negociando um acordo. É esse tratado em discussão que permitirá
a estada dos militares americanos no Iraque de forma legítima uma vez expirado o mandato da ONU, no fim deste ano.
O apoio de Maliki havia sido
dado primeiro em entrevista à
revista alemã "Der Spiegel" divulgada no último sábado. Ante
a comoção causada na Casa
Branca, Maliki veio a público
dizer que fora mal interpretado, por ter falado em árabe.
No domingo, o "New York Times" ouviu as fitas da revista
alemã com um tradutor árabe,
que confirmou a frase de apoio.
Ontem, o porta-voz de Maliki
voltou a confirmar o apoio por
vias tortas: "Nós não podemos
dar qualquer prazo ou data,
mas o governo iraquiano acredita que o final de 2010 é a data
apropriada para a retirada",
disse Ali al Dabbagh. O Iraque
exige um cronograma de retirada para firmar o acordo.
Como o próximo presidente
dos EUA assume em 20 de janeiro de 2009, os 16 meses previstos por Obama caem em 20
de maio de 2010. O assunto dominou o encontro diário da
porta-voz da Casa Branca com
os jornalistas ontem.
"O acordo sobre o qual estamos trabalhando não é nada
parecido como os 40 ou 50 planos de retirada arbitrária que
nós vimos muitos membros do
Congresso apoiar nos últimos
anos", disse Dana Perino.
Mas, mais importante, ela
alertou ser "improvável" que o
prazo para apresentar os termos e condições do acordo, que
acaba no próximo dia 31, seja
cumprido.
A porta-voz aproveitou ainda
para cutucar o líder iraquiano:
"Não achamos que negociar
sua posição via imprensa seja a
melhor maneira de se chegar a
um acordo".
Janela de oportunidade
No domingo, um assessor de
Maliki afirmara à Associated
Press que o premiê iraquiano
quer aproveitar a campanha
presidencial norte-americana
para conseguir um acordo mais
favorável ao seu país. "Vamos
apertá-los", teria dito o premiê
segundo o assessor.
O compromisso de Bush divulgado na última sexta com
um "horizonte temporal genérico" para a retirada das tropas,
o primeiro que faz do tipo, ainda que extremamente vago, seria já resultado do "aperto".
Ontem, Obama procurou se
afastar publicamente do debate, dizendo apenas que em seu
encontro com as lideranças iraquianas eles discutiram "questões gerais". Estava acompanhado do embaixador dos EUA
no Iraque, Ryan Crocker, e falou brevemente com o comandante militar dos EUA na região, general David Petraeus.
Seu rival republicano, John
McCain, aproveitou para criticá-lo de novo por não ter apoiado a escalada das tropas implementada por Bush: "Estou feliz
que o senador Obama tenha
uma chance de sentar-se pela
primeira vez com o general Petraeus e entender melhor a escalada e por que funcionou".
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