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Capital contrapõe comunismo à fé
ENVIADA ESPECIAL AO TIBETE
Com 1.400 anos de história,
Lhasa é uma metáfora da relação
entre a China e o Tibete: de um lado da capital está a cidade antiga,
dominada pela religiosidade e por
milhares de peregrinos que recitam salmos budistas; de outro, a
cidade nova, claramente chinesa,
onde o fervor religioso é escasso e
a paisagem é marcada pelas atividades comerciais.
Não há nenhum vestígio de semelhança entre as duas culturas,
separadas por diferentes línguas,
fé, culinária, hábitos, estrutura social e maneiras de vestir.
Cada dia na parte antiga de Lhasa é comparável às romarias religiosas em datas especiais no Brasil, com milhares de fiéis caminhando para os templos com rodas sagradas nas mãos -cada giro representa a declamação de
partes de salmos budistas.
Os principais destinos são o palácio Potala, onde vivia o dalai-lama, e o templo Jokhang, o mais
antigo da cidade, construído no
século 7º. Antes de entrar nos locais, muitos fiéis fazem reverências a Buda na rua, deitando-se e
levantando-se dezenas de vezes.
Cichen, 69, e sua mulher, Aji, 68,
vão todos os dias ao templo Jokhang, onde dão cem voltas em
torno do edifício principal recitando salmos budistas. Os dois
nasceram em famílias religiosas,
como quase todos no Tibete, e
têm cinco filhos -um dos quais é
monge.
Mas a aparente liberdade mascara o estrito controle exercido
pelo Partido Comunista sobre os
monastérios e qualquer tentativa
de veneração pública do dalai-lama, apontado no fim dos anos 30
como a reencarnação do Buda da
Compaixão e considerado o principal líder espiritual do Tibete.
"O Partido Comunista Chinês
vê a fé religiosa como um dos seus
principais problemas no Tibete,
principalmente em razão do vínculo entre o budismo tibetano e a
identidade tibetana", diz o relatório "Quando o Céu Caiu sobre a
Terra", da Campanha Internacional pelo Tibete, baseado em pesquisas realizadas nos últimos três
anos.
Segundo a entidade, o governo
limita o número de monges nos
mosteiros e controla as atividades
religiosas por meio de "comitês
democráticos", cujos integrantes
têm de obter aprovação oficial.
Além disso, os monges estão sujeitos à "educação patriótica", pela qual têm de renegar o dalai-lama e manifestar fidelidade ao governo de Pequim.
O pior período para a vida religiosa no Tibete depois de 1951 foi
a Revolução Cultural (1966-1976),
quando dezenas de templos e monastérios foram destruídos pelos
guardas vermelhos de Mao Tsé-tung.
"Nesse período, houve destruição de monumentos não apenas
no Tibete, mas em toda a China",
afirma Rao Jin, pesquisadora do
Instituto de Tibetologia de Sichuan.
Segundo ela, a Revolução Cultural foi um erro, e a maioria dos
templos e monastérios foram restaurados posteriormente.
Hoje há 1.700 locais religiosos e
46 mil monges no Tibete, diz Zigong Qiongchang, vice-presidente da Comissão de Estudos sobre
o Budismo Tibetano e responsável pelo Instituto Impressor de
Salmos e Orações do Tibete.
(CT)
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