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Ásia e África são alternativa ao instável Oriente Médio
DA REDAÇÃO
A indústria petrolífera entrou
em uma nova zona de turbulência
após os atentados de 11 de setembro de 2001, cujas ondas de choque se propagam em um cenário
em que o Oriente Médio está no
olho do furacão. Com mais de
65% das reservas mundiais de petróleo e 44,5% das exportações,
alguns países dessa região aparecem no topo da lista dos alvos da
guerra antiterror declarada por
George W. Bush.
O Irã e o Iraque integram o que
Bush denomina o eixo do mal.
A Arábia Saudita, maior produtor e exportador de petróleo, é um
dos principais aliados dos EUA,
mas sofre acusações de tolerância
com grupos extremistas islâmicos: 15 dos 19 sequestradores do 11
de setembro eram sauditas.
"Há uma espécie de entendimento de que Riad representa os
interesses norte-americanos na
Opep [Organização dos Países
Exportadores de Petróleo" em
troca do apoio à ditadura monárquica no país. Mas há divergências, mesmo entre aliados", disse
à Folha, por telefone, de Virgínia
(EUA), Ruhi Ramazani, especialista em geopolítica do petróleo.
O agravamento do conflito israelo-palestino e o provável ataque ao Iraque são ingredientes
para uma mistura explosiva cujas
farpas vão atingir o mercado, segundo analistas. "A coexistência
de barris de petróleo e barris de
pólvora é particularmente explosiva nesta parte do planeta", diz
Nicolas Sarkis, diretor da revista
"Le Pétrole et le Gaz Arabes".
Até agora, segundo ele, o impacto maior do 11 de setembro sobre o mercado petrolífero se limitou a variações no preço. Mas a
queda-de-braço entre Washington e Bagdá já vem aumentando a
instabilidade no Oriente Médio.
O panorama atual reaviva as
preocupações com o fluxo do petróleo e enfatiza a recomposição
da paisagem petrolífera, iniciada
há vários anos e que se evidencia
pela aproximação entre Washington e Moscou, com um envolvimento maior das empresas americanas em projetos de desenvolvimento do setor petrolífero e de
gás na Rússia, e pelo interesse reforçado em regiões como a bacia
do mar Cáspio e o oeste da África.
Na última quarta-feira, o secretário da Energia dos EUA, Spencer Abraham, reuniu-se com os
presidentes de Azerbaijão, Geórgia e Turquia para comemorar
"uma das mais importantes conquistas energéticas" -o início da
construção do oleoduto Baku
(Azerbaijão)-Ceyhan (Turquia).
A intenção é reduzir a dependência atual em relação a exportadores do golfo e oleodutos russos.
Com esse oleoduto, de 1.760
km, o petróleo do sul do Cáspio
evitará a Rússia e o Irã. A construção do oleoduto deve acabar em
2004, e sua utilização se fará a partir do ano seguinte.
O interesse europeu pela região
do Cáucaso cresceu com o projeto
Traseca, que visa estabelecer ligações marítimas e ferroviárias com
a Ásia Central. O Reino Unido
prioriza o Azerbaijão, onde a British Petroleum é atuante. A França se aproximou de Ierevan devido à expressiva comunidade armênia no país. Apesar de sua importância econômica, a Europa
não desempenha um papel de
destaque nas decisões estratégicas
da região. Foi Washington que
excluiu o Irã do traçado de oleodutos "possíveis", embora essa
solução apareça como uma das
menos caras e mais certas.
À exceção do Irã, países vizinhos do Afeganistão como Azerbaizão, Tadjiquistão e Cazaquistão vêm fechando acordos com
grandes empresas norte-americanas, entre elas a Chevron-Texaco
e a Unocal, que liderou até 1998
um projeto de US$ 2 bilhões para
a construção de um gasoduto do
Turcomenistão ao Paquistão,
atravessando todo o Afeganistão.
O projeto deve ser retomado.
Opção africana
A África está ganhando relevância por causa do petróleo. O continente já responde por cerca de
15% das importações petrolíferas
dos EUA, e a expectativa é que seu
fornecimento cresça (para 25%),
com base na nova produção no
oeste africano e na construção de
oleodutos. "A chave para a segurança no fornecimento é a diversidade de fornecimento", argumenta Robin West, presidente da
Petroleum Financing Company.
"E o oeste da África será mais importante do que a Rússia para o
mercado", acredita ele.
As investidas diplomáticas também se fazem acompanhar de discussões sobre uma ampliação nos
acordos militares com países do
oeste da África. Uma base militar
norte-americana deve ser estabelecida em São Tomé e Príncipe,
cujo idioma oficial é o português.
"Há grande entusiasmo em relação ao oeste da África", diz Daniel Yergin, presidente da Cambridge Energy Research Associates. "A questão política é complexa, mas a logística é mais simples."
Reduzir dependência
Resta saber se esses investimentos reduzirão de forma expressiva
a dependência em relação ao petróleo do Oriente Médio e evitarão crises energéticas. É pouco
provável, segundo analistas.
As reservas comprovadas de
países do oeste da África são estimadas em 39 bilhões de barris, ou
seja, por volta de 4% do total
mundial. As da Ásia Central são
motivo de controvérsias, não há
um número aceito por especialistas. O que se destaca nesse quadro
é a porcentagem do Oriente Médio: mais de 65%.
Um relatório sobre as "Perspectivas Energéticas Mundiais" que a
Agência Internacional de Energia
(IEA) publicou em novembro de
2001 reforça essa predominância.
No caso do petróleo, a agência
mantém as mesmas estimativas
de oferta e demanda de 2000 para
os próximos 20 anos, incluindo
um crescimento médio da demanda mundial de 1,9% ao ano.
""É um desafio impressionante, e
ninguém fala abertamente como
ele será resolvido", diz Sarkis.
Cinco países da Opep -Arábia
Saudita, Iraque, Kuait, Irã e
EAU- devem responder por
32% da produção mundial em
2010 e 41% em 2020.
Segundo o ministro do Petróleo
do Iraque, Amir Rashid, apenas
24 dos 73 poços locais estão em
funcionamento. Quando o embargo se encerrar, a expectativa é
que o país dobre a produção.
A dependência em relação ao
petróleo do Oriente Médio deve
crescer; no caso da América do
Norte, de 44,6%, em 1997, para
58% em 2020. No caso da Europa,
de 52,5% para 79%.
A revolução na Líbia, em 1969, a
Revolução Islâmica (no Irã), em
1979, e a Guera do Golfo mostram
que, não importa o regime no poder, esses países querem desenvolver a produção de petróleo.
Sanções e instabilidade política
afastam os investidores estrangeiros. "A questão principal não diz
respeito aos recursos, mas à estabilidade política no Oriente Médio, que continuará a ser o centro
nevrálgico do petróleo nas próximas décadas", diz Sarkis.
(PDF)
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