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VENEZUELA
Estratégia seria cercar palácio e forçar confronto para aumentar pressão sobre Chávez, acabando com impasse atual
Oposição relança "batalha de Miraflores"
DO ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
A oposição ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, está relançando a hipótese da "batalha de
Miraflores" (o palácio que é a sede
governamental, em Caracas) na
tentativa de forçar um confronto
que possa quebrar o impasse que
paralisa o país.
"Nenhuma ameaça, nenhuma
intimidação vai nos deter. Miraflores é de todo o povo, não de um
só setor", disse Carlos Ortega,
presidente da CTV (Central de
Trabalhadores da Venezuela) e
um dos principais líderes da
Coordenadora Democrática, a
multifacetada coalizão opositora.
Sitiar Miraflores é fundamental,
do ponto de vista simbólico, não
apenas por ser a sede do governo.
Ocorre que as manifestações de
massa já se tornaram parte da rotina venezuelana e já deixaram estabelecido que a oposição a Chávez é muito forte.
Não obstante, não bastam para
fazer o presidente aceitar o ultimato oposicionista resumido no
slogan "vete ya" (vá embora já). É
preciso, portanto, um passo a
mais que seria gritar o slogan o
mais perto possível da sede governamental e/ou provocar uma repressão que leve a um aumento
da pressão pela saída de Chávez.
Não é, entretanto, a única batalha à vista. Na noite de sexta-feira,
efetivos militares, com apoio de
funcionários judiciais, detiveram
parte da tripulação do navio-tanque "Pilín León", acusando-a de
desacato a uma sentença judicial
para que a embarcação voltasse a
operar.
O barco, que leva o nome de
uma ex-miss Venezuela, está sendo considerado o símbolo da paralisação petrolífera. Fundeado
em Maracaibo, carregado com
mais de 44 milhões de litros de gasolina, bloqueia a movimentação
de outros navios-tanque.
Não é o único fator, mas é um
dos principais responsáveis pela
escassez de combustível que, por
sua vez, se tornou a outra chave
da crise (além da "batalha de Miraflores").
Como a greve geral convocada
pela oposição desde o dia 2 tem
efeitos apenas relativos, é a falta
de combustível que leva a uma
crescente paralisação de atividades, escassez de produtos nos comércios, filas e aumentos abusivos de preços.
Abastecimento
Normalizar o abastecimento
torna-se, portanto, essencial para
o governo, embora haja avaliações contraditórias sobre um
eventual agravamento da crise de
abastecimento.
Há quem ache que a irritação
contra o governo só aumentaria.
Mas há também quem entenda
que a raiva do público se voltaria
contra a oposição, ao apontá-la
como responsável pela paralisação petrolífera -ainda mais que
há uma ordem judicial para que
os petroleiros voltem ao trabalho
até que a greve seja julgada pela
Justiça venezuelana.
O jornalista Pablo Antillano, colunista de "El Nacional", um dos
dois grandes jornais venezuelanos, antecipa:
"A greve já não se concebe como uma greve civil, forte e, acima
de tudo, voluntária. Percebe-se
em sua essência como uma greve
petrolífera, forçada, obrigatória e,
portanto, violenta, bélica."
Se essa é a opinião de um antichavista, em um jornal furiosamente contrário ao presidente, fica razoável imaginar que a reação
do público, chavista ou neutro,
pode de fato ser contrária aos
oposicionistas.
De todo modo, as batalhas de
Miraflores e do "Pilín León" são
indicações claras de que a crise
tem, crescentemente, um componente de confronto absoluto,
marginalizando a eventualidade
de uma negociação, que, no entanto, também existe, mas se dá
nas sombras.
Confronto que não tem piedade
da aproximação do Natal. Ao
contrário: o comandante do Exército, general Júlio García Montoya, disse, na segunda-feira, que a
greve dos petroleiros, além de
uma "sabotagem contra a principal riqueza da Venezuela", representava "o sequestro do Natal".
(CS)
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