São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008

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Oposição a Morales quer anular referendo

Governadores dizem que não aceitarão votação, em agosto, que pode revogar seus mandatos e o do presidente boliviano

Oposicionistas ameaçam pressionar por eleições antecipadas; pesquisas mostram que revogatório favorece o presidente

DA REDAÇÃO

Cinco governadores de oposição ao governo de Evo Morales propuseram ontem a anulação do referendo revogatório de seus mandatos e dos mandatos do presidente e de seu vice, marcado para 10 de agosto.
Em carta a Morales, eles afirmaram que não permitirão a realização da votação em seus departamentos (Estados), a menos que o presidente reconheça o resultado dos referendos por autonomia regional realizados neste ano em quatro regiões - Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija.
"O [referendo] revogatório ficou anacrônico na realidade atual", disse o governador de Cochabamba, Manfred Reyes Villa. "É preciso começar um processo de reconciliação nacional", afirmou Mario Cossío, de Tarija, anfitrião da reunião. Caso Morales não ceda, completou Reyes Villa, os governadores defenderão a antecipação das eleições gerais.
O referendo revogatório foi inicialmente proposto por Morales para pressionar os governadores a negociar. Em maio, porém, sua convocação foi aprovada pelo Senado de maioria oposicionista, em meio à crise causada pelo referendo autonomista realizado naquele mês em Santa Cruz, o departamento mais rico do país.
As regras prevêem que Morales e todos os governadores perderão os cargos se obtiverem reprovação superior à porcentagem e ao número absoluto de votos computados quando eleitos, em 2005. Pesquisas de opinião recentes mostram que, sob essas regras, apenas Morales e o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, teriam garantida a manutenção de seus cargos. Daí a reação dos governadores ontem.
"[A proposta dos governadores] é um golpe contra a Constituição, um golpe contra a democracia", reagiu o ministro da Presidência, Juan Quintana. Mais cedo, Morales descartara anular o referendo: "Vamos cumprir a lei. Pode haver diálogo sobre outros temas, mas o referendo revogatório não está em discussão".

Tarija
No domingo, o estatuto de autonomia proposto por Cossío foi aprovado por 81% dos votos em Tarija, com abstenção de cerca de 30%, segundo cômputo de metade das seções eleitorais. Tarija concentra 85% da produção de gás da Bolívia.
O referendo -organizado, como em Santa Cruz, Beni e Pando, sem o aval da Justiça Eleitoral- é considerado inconstitucional por La Paz.
A realização dos referendos sobre autonomia foi a resposta dos governadores oposicionistas à Constituição aprovada em dezembro de 2007 pelas forças governistas. A Carta, que ainda precisa passar por voto popular, não foi reconhecida pela oposição. O impasse é o cerne da crise boliviana.
Até agora, todas as tentativas de diálogo entre Morales e os governadores de oposição -que controlam 6 dos 9 departamentos do país- fracassaram, incluindo as reuniões em que Brasil, Argentina, Colômbia e a OEA (Organização dos Estados Americanos) atuaram como mediadores.


Com agências internacionais.


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