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Rico também emigra, até mais do que os pobres
Escolarizados se mudam para mais longe e por mais tempo
DO ENVIADO A SANTANDER
O que complica a discussão
sobre migrações é o fato de que
se trata de um fenômeno multifacetado. Não são só pobres que
emigram, nem a emigração se
dá sempre de um país pobre para um país rico.
"O migrante deixou de ser o
pobre que vinha a nossos países
ganhar a vida", admite Manuel
Pombo Bravo, o representante
da Espanha na OIM (Organização Internacional para as Migrações). Acrescenta: "Há três
ou quatro vezes mais migrantes
sul-sul do que sul-norte".
Contas apresentadas por Rafael Rodríguez, o coordenador
do seminário "Globalização,
Migração Internacional e Desenvolvimento", em Santander, mostram que, dos migrantes que vivem nos países da OCDE (os 30 mais industrializados do mundo), só 0,5% vieram
de países de renda baixa.
"Quase a metade dos migrantes asiáticos e latino-americanos têm educação terciária",
completa Rodríguez.
Reforça Robert Skeldon, professor da Escola de Estudos Sociais e Culturais da Universidade britânica de Sussex: "México
e Filipinas, países comparativamente pobres, têm 10% de
suas populações na condição de
migrantes, mas o Reino Unido
[rico], tem 9,5% de sua população vivendo no exterior".
Skeldon diz que os pobres
também emigram, como é evidente, "mas o fazem para mais
perto e por menos tempo".
Custos
Jorge Quiroga, ex-presidente
da Bolívia, explica o porquê:
viajar de Cochabamba à Argentina custa ao boliviano o equivalente a US$ 38. Já viajar para
os Estados Unidos, sai por US$
740. Completa: "À Europa, vem
gente que pode vender casa ou
carro para custear a viagem".
Manuel Pombo joga no debate um dado que combina com a
tese de que não são apenas os
"pobrezinhos" que emigram:
na Espanha, que passou de
emissora de migrantes a importadora, as quatro comunidades maiores são, pela ordem,
a romena, a marroquina, a
equatoriana e a britânica -portanto, dois países muito pobres,
um riquíssimo e um quarto que
não é nem uma coisa nem a outra, mas agora faz parte da
União Européia, o que facilita
muito o trânsito de seus nacionais no continente.
Tanto facilita que há 700 mil
romenos vivendo na Espanha e
900 mil na Itália, pelas contas
do ex-premiê Petre Roman.
A complexidade do fenômeno fica ainda mais clara quando
se fala de Equador: embora tenha expulsado tanta gente que
forma a terceira maior comunidade estrangeira na Espanha,
abriga também imigrantes: há
300 mil colombianos vivendo
no Equador, em geral expulsos
pela violência na Colômbia, um
dos fatores que levam à fuga.
É também um dos fatores
que dificultam ou impedem a
volta: "O migrante que volta se
torna alvo das quadrilhas, porque ganhou fora dinheiro suficiente para se tornar muito visível" na comparação com os
demais membros de sua comunidade de origem, diz Ninna
Nyberg Sorensen, chefe do programa de apoio à Democracia e
aos Direitos Humanos na América Central, conduzido pelo
governo dinamarquês.
Mas, às vezes, a violência é
provocada pela própria migração. O ex-presidente Quiroga
conta o caso de uma família de
Santa Cruz de la Sierra: a mulher, enfermeira, migrou em
busca de trabalho, esperando
logo levar o resto da família
(marido e três filhos). Conseguiu o emprego, mas conseguiu
também um novo companheiro. Quando o marido original
soube, matou os dois filhos
mais jovens e se suicidou, deixando o filho mais velho para
contar a tragédia à mãe.
(CLÓVIS ROSSI)
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