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Eleição não deverá pôr fim à rixa transatlântica
DA REDAÇÃO
Mesmo que o democrata John
Kerry, mais conciliador, vença o
republicano George W. Bush em
2 de novembro, ao menos três temas continuarão a opor os EUA à
Europa, mantendo pressão sobre
os laços transatlânticos: o Iraque,
o Irã e o conflito israelo-palestino.
A invasão do Iraque, ordenada
por Bush, provocou o que analistas chamam de "o maior desentendimento entre europeus e
americanos desde a Segunda
Guerra [1939-45]" e deixou cicatrizes ainda claras nas relações entre os europeus que a ela se opuseram, como a França, e os que a
apoiaram, como o Reino Unido.
Obviamente, a situação não se
agravará. Ambas as partes buscam aparar as arestas provocadas
pela rixa diplomática que precedeu a guerra. Contudo a deterioração da situação de segurança no
Iraque contrasta com a intenção
de Kerry de "atrair aliados" para o
esforço de reconstrução do país.
Afinal, seria difícil para os opositores à guerra, como Jacques
Chirac, presidente francês, ou
Gerhard Schröder, chanceler
(premiê) alemão, convencer os
eleitores de que, com a troca de
governo nos EUA, seus países
passariam a apoiar Washington.
Vale lembrar que Kerry insiste
no fato de que os EUA arcam com
"90% das baixas e com 90% dos
custos" no Iraque. Ora, é ilusório
imaginar que os franceses ou os
alemães venham a concordar em
dividir as baixas humanas ou o
peso financeiro da reconstrução
sem real poder no processo de tomada de decisões, embora, é verdade, ninguém tenha interesse
num agravamento da crise atual.
Quanto ao Irã, a situação não é
mais cômoda. Washington tem
certeza de que Teerã, cuja posição
é oscilante, busca dotar-se de armas nucleares. Recentemente, todavia, aceitou apoiar uma iniciativa européia (Paris, Berlim e Londres) de tentar obter garantias de
segurança do governo iraniano.
Como, por ora, o resultado é decepcionante, o governo dos EUA
quer acionar o Conselho de Segurança da ONU, que poderia aplicar sanções ao Irã. Kerry tem
mostrado grande preocupação
com o tema. Porém os europeus
ainda crêem no diálogo, e a questão é um potencial ponto de desacordo entre os EUA e a Europa.
Finalmente, os europeus, sobretudo os franceses e os alemães,
acreditam que Washington tenha
uma atitude demasiadamente
pró-Israel no Oriente Médio. O
governo americano, por sua vez,
está desapontado com a inação
européia no que se refere ao problema. Por razões políticas internas, Kerry não deverá mudar a
posição dos EUA, o que tende a
exacerbar a rixa transatlântica.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
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