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INVASÃO PREVENTIVA
Um ano e meio após a ocupação do país, os americanos ainda não sabem como e quando encerrar a
operação militar com algum êxito
Iraque virou lodaçal para o governo Bush
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
DEZENOVE MESES DE ocupação do Iraque mostram que um ditador deposto equivale a pelo menos 13
mil civis iraquianos e 1.100 soldados americanos mortos, uma insurgência com cerca de 22 mil homens e US$ 120 bilhões a menos nos cofres dos EUA. A equação poderia continuar com uma coalizão militar se esfacelando, decapitações e um escândalo. Mas não há número que dê a dimensão do lodaçal em que o governo Bush se enfiou.
Bush levou seis semanas para
declarar que a missão dos EUA no
Iraque estava cumprida. Passado
um ano e meio, não há luz no fim
do túnel: a estratégia se resume a
um cronograma que fixa as eleições do país para janeiro. Mais
grave, não há planos de quando e
como encerrar a presença militar
americana com algum êxito.
Analistas de todos os escopos
políticos enumeram os erros de
Washington. Mais recentemente
somou-se ao quadro uma série de
críticas vindas de dentro do governo. Da falta de planejamento
ao desmantelamento do Exército
local, passando pela permissão
para que a cidade de Fallujah virasse o porto seguro da insurgência, há consenso sobre os erros estratégicos. Onde, então, a população e os analistas se dividem? Em
duas questões. A primeira é se
Saddam Hussein era de fato uma
ameaça mundial. A segunda é se o
mundo está mais seguro.
Depois que Charles Duelfer, o
chefe da inspeção americana de
armas no Iraque, concluiu após
meses de busca que Saddam não
possuía um arsenal de destruição
em massa quando os EUA invadiram o país, o governo teve de mudar o argumento que até então
usava para justificar a guerra. A linha adotada foi a de que, mesmo
sem armas prontas, o ditador
buscava obtê-las e era, sim, uma
ameaça à paz mundial.
Mas o relatório de Duelfer ao
Senado diz que dificilmente Saddam teria meios de produzir um
novo arsenal após sofrer 13 anos
de sanções da ONU, depois da
Guerra do Golfo (1991).
Ainda assim, boa parte dos
americanos continua a pensar
que a guerra foi válida. Da invasão
(março de 2003) até este mês, a
parcela que acha que a guerra valeu a pena caiu de 68% para 44%,
segundo pesquisa do Gallup. Já os
que crêem que não valeu a pena
subiram de 29% para 54%.
Quanto ao mundo ter se tornado mais seguro, a resposta é "não"
-ao menos para um dos principais centros de pesquisa sobre o
tema. "De modo geral, o risco de
terrorismo contra indivíduos e alvos ocidentais em países árabes
parece ter aumentado depois da
Guerra do Iraque", diz o Instituto
Internacional de Estudos Estratégicos, do Reino Unido, em seu recém-lançado balanço militar.
Mesmo assentindo que Bush
cometeu "erros colossais de julgamento" (citando o democrata
John Kerry), o analista militar
Max Boot, do Council on Foreign
Relations, acredita que a história
favoreça o presidente e sua capacidade de se manter resoluto.
"Tanto Lincoln como Roosevelt
foram líderes brilhantes em tempos de guerra exatamente porque
tiveram capacidade para superar
as adversidades e inspirar o país
rumo à vitória. É isso que Bush está tentando fazer hoje", escreveu
em coluna no "LA Times".
Para Michael O'Hanlon, analista sênior da Brookings Institution
e co-autor de uma análise numérica da guerra, o caminho é inverso. "O único erro do governo
Bush no Iraque que ainda pode
ser corrigido é a falta de legitimidade internacional. Mas acho que
será preciso um governo Kerry
para isso", disse à Folha. "A estratégia de saída dos EUA deve ser
conter a insurgência por tempo
suficiente para treinar as forças
iraquianas e ir para casa em dois
ou três anos, ainda que muito de
sua missão não seja cumprida."
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