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Narcotráfico ameaça a estabilização afegã
DA REDAÇÃO
Após mais de duas décadas de
conflitos armados, iniciados com
a invasão soviética em 1979 e terminados com a deposição do Taleban por uma coalizão liderada
pelos EUA em 2001, o Afeganistão
corre o sério risco de deixar para
trás a sombra do extremismo islâmico para tornar-se um Estado
dominado pelo narcotráfico.
Por outro lado, três anos depois
do fim do regime radical do Taleban, alguns progressos são palpáveis. Mais de 10,5 milhões de eleitores afegãos (40% do sexo feminino) se inscreveram para votar
na eleição presidencial de 9 de outubro, da qual o presidente Hamid Karzai -apoiado por Washington- deve sair vencedor.
Segundo a ONU, ademais, já há
mais de 5 milhões de estudantes
no Afeganistão atualmente, e
quase 40% são meninas. Estas,
sob o Taleban, não podiam freqüentar escolas públicas. Houve
uma campanha de vacinação que
atingiu 7,5 milhões de crianças, e
a poliomielite deverá ser erradicada ainda em 2004, também de
acordo com a entidade.
As boas notícias não param aí,
mas, infelizmente, são ofuscadas
pelo lado negativo da atual sociedade afegã. Senhores da guerra
continuam a ditar as regras no interior do país, pois o governo central só controla Cabul (capital).
Quando as forças oficiais resolvem se aventurar pelo interior do
país para enfrentá-los, eles acabam transferindo seus negócios
do contrabando e da evasão fiscal
para o narcotráfico, agravando a
preocupante situação.
Atualmente, o Afeganistão é
responsável por 75% da produção
global de opiáceos. O cultivo e a
venda de ópio e de heroína gerará
uma receita de US$ 2,3 bilhões
neste ano, enquanto o governo
Karzai só conseguirá arrecadar
US$ 285 milhões em impostos, de
acordo com a ONU.
O perigo é, portanto, a infiltração do narcotráfico na cena política. Como Karzai não deverá conseguir formar um governo sem o
apoio de seus maiores adversários
na eleição -os senhores da guerra Yunis Qanuni (tadjique) e Abdul Rachid Dostum (uzbeque)-,
a porta ficará aberta ao alastramento da corrupção.
Afinal, para a Human Rights
Watch, o narcotráfico floresce
graças à proteção dos senhores da
guerra. Muitos deles, aliás, têm
privilegiado o cultivo da papoula,
mais lucrativo e menos arriscado
que outras atividades ilegais.
Assim, além de combater a Al
Qaeda no sul do Afeganistão, o
próximo presidente dos EUA deverá cuidar da questão da droga.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
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