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Tortura em Abu Ghraib marca guerra
DE NOVA YORK
Se a primeira Guerra do Golfo
ficou lembrada pelas cenas ao vivo de bombardeios noturnos, a
Guerra do Iraque será lembrada
pelas câmeras fotográficas digitais
e o circo de horrores que elas registraram na prisão de Abu
Ghraib, na periferia de Bagdá.
As imagens captadas no fim do
ano passado por um grupo de
guardas vigiando suspeitos de
pertencer à insurgência iraquiana
ou ao regime de Saddam Hussein
vieram à tona entre abril e maio.
Foram exaustivamente exibidas
pela imprensa, chocaram o mundo e tornaram-se a prova inconteste do pior escândalo envolvendo militares americanos em mais
de três décadas.
Mais grave do que isso, as cenas
de iraquianos nus empilhados,
acuados por cachorros ou humilhados sexualmente, e de recrutas
sorrindo diante de prisioneiros
feridos ou mortos, entre outras,
levaram muitos a questionar se a
guerra ao terror do presidente
George W. Bush permitiu que tortura e outros abusos se tornassem
práticas institucionalizadas.
Afinal, casos semelhantes
-ainda que nenhum documentado de modo tão chocante-
emergiram em outras prisões
americanas para "combatentes
inimigos". A designação americana para estrangeiros suspeitos de
terrorismo, presos sem direito a
defesa, exime os EUA de aplicarem as Convenções de Genebra,
legislação internacional sobre direitos dos prisioneiros de guerra.
Neste mês, 28 soldados foram
indiciados pela prática de maus-tratos contra prisioneiros no Afeganistão. Depoimento de diversas
pessoas que trabalharam na prisão americana em Guantánamo
(Cuba) citados pelo jornal "The
New York Times" indicam que
medidas rígidas de coerção -inclusive violência física e psicológica- são aplicadas rotineiramente na base militar para os capturados na guerra ao terror.
A posição do Pentágono é de
que se trata de casos isolados, que
estão sendo punidos.
Encarregado de investigar o que
ocorreu dentro da prisão, o general Antonio Taguba apresentou
um relatório em março no qual
revelou cenas escabrosas passadas em Abu Ghraib. Nesse documento, ele sugere que as práticas
eram sistemáticas, incentivadas
por oficiais e membros da CIA
(agência de informações americana) e haviam começado nas prisões mantidas pelos EUA no Afeganistão. O dossiê não foi escrito
para divulgação pública, mas acabou revelado em maio na revista
"The New Yorker".
As investigações pararam no
baixo escalão, e até agora, apenas
sete militares foram indiciados. A
patente mais alta entre eles é a de
sargento. Juízes militares vetaram
pedidos dos advogados de defesa
para interrogar o secretário da
Defesa, Donald Rumsfeld.
Apenas o recruta Jeremy Sivits,
que denunciou colegas em troca
de sofrer acusações mais brandas,
foi julgado. Foi condenado a um
ano de reclusão e expulso do
Exército. As cortes marciais para
os demais envolvidos começaram
nesta semana. Para o recruta especialista Charles Graner, contra
quem pesam as acusações mais
graves, a pena pode chegar a 24
anos de prisão. Ele teria espancado um iraquiano até a perda da
consciência e seria responsável
pela pilha de detentos nus. (LC)
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