São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Para Morales, oposição tem de cumprir regra e ir a referendo

Boliviano rejeita carta que impunha cancelamento de votação como condição para diálogo

Mandatário afirma que governadores têm "medo do povo" e insta polícia e Forças Armadas a "fazerem que lei seja respeitada"

DA REDAÇÃO

O presidente da Bolívia, Evo Morales, reagiu duramente à carta enviada a ele por cinco governadores oposicionistas, na qual impunham a não-realização do referendo que pode revogar os seus mandatos -e o de Morales- como precondição para retomarem o diálogo com o mandatário.
Morales, em discurso em La Paz durante a celebração do aniversário da Polícia Nacional, tachou os opositores de golpistas e disse que eles têm "medo do povo". Além de instar os oposicionistas a "respeitarem as normas vigentes", pediu à polícia e às Forças Armadas que "façam com que a Constituição seja respeitada".
Proposta original de Morales para pressionar a oposição ao diálogo, o referendo revogatório foi aprovado em maio pelo Senado, de maioria oposicionista, como provocação ao governo. Mas Morales viu na votação oportunidade de mostrar força e confirmou sua realização para 10 de agosto.
Para que os mandatos sejam revogados, é necessário que o "não" supere tanto em número absoluto quanto em porcentagem os votos obtidos pelo presidente e os nove governadores nas eleições em 2005. Segundo pesquisas recentes, apenas Morales e o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, seriam mantidos em seus cargos.

Autonomia e Constituição
Dos 5 governadores que assinaram a carta a Morales, 4 -dos departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija- organizaram em seus departamentos referendos em que foram aprovados estatutos de autonomia regional. Os pleitos foram considerados ilegais por La Paz, já que os governadores não tinham autoridade para convocá-los e eles aconteceram sem participação da Justiça eleitoral.
Os referendos sobre autonomia foram uma resposta dos governadores à Constituição aprovada em dezembro de 2007. A Carta, que ainda precisa passar por voto popular, não foi reconhecida pela oposição, criando o impasse que sustenta a crise boliviana.
No discurso de ontem, Morales disse que os oposicionistas rejeitam o referendo revogatório porque "querem continuar roubando" e afirmou ter provas contra alguns governadores. "A honestidade me trouxe à Presidência da República", disse.
O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, teria até pedido que os governadores fossem levados a julgamento caso insistam em não se submeterem ao referendo revogatório, segundo a agência Ansa. "Este é um golpe baixo contra o Parlamento, que foi quem aprovou a lei de convocação do referendo revogatório. Por isso pedimos que se inicie imediatamente o julgamento de responsabilidade dos governadores", afirmou.
O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, se disse preocupado com a rejeição dos governadores ao referendo revogatório, que o órgão via como sinal de consenso para tentar superar a crise política na Bolívia.
"Nos preocupa essa posição dos governadores, que constitui um retrocesso", afirmou Insulza. O órgão defende que o referendo "se baseou em amplo consenso entre Parlamento, Executivo e os governadores".
A OEA -ao lado de Brasil, Argentina e Colômbia- já tentou, sem sucesso, atuar como mediadora entre Morales e os governadores de oposição.


Com agências internacionais.


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