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ELEIÇÃO NA COLÔMBIA
Acusação de elo com paramilitares e narcotráfico permeia biografia que o candidato rejeita com veemência
Passado incomoda o favorito Alvaro Uribe
DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA
A comparação é inevitável. Os
dois se projetaram em um curto
espaço de tempo à margem dos
partidos políticos tradicionais. Os
dois venderam ao eleitorado uma
imagem de bom moço ao mesmo
tempo em que prometiam a recomposição da autoridade perdida pela Presidência. Apregoaram
a modernização do Estado e o
combate frontal à corrupção.
Confrontados com denúncias sobre passagens mal explicadas em
seu passado, deixam a calma serena e perdem a compostura.
Mas só o tempo dirá se o franco
favorito a vencer a eleição presidencial colombiana já no primeiro turno, hoje, o direitista Alvaro
Uribe Vélez, terá o mesmo futuro
do ex-presidente brasileiro Fernando Collor de Mello (1990-92),
que renunciou ao cargo para escapar de um processo de impeachment por corrupção.
Uribe, 49, chega à eleição como
favorito, apesar das denúncias
contra ele por supostos vínculos
com grupos paramilitares de direita -responsáveis por inúmeros casos de desrespeito aos direitos humanos- e com narcotraficantes, que ele nega.
Prefeito indicado de Medellín
em 1982, senador de 1986 a 1994,
governador de Antioquia de 1995
a 1997, Uribe desenvolveu sua
carreira política vendendo a idéia
de eficiência administrativa e
combate à corrupção.
Pelo seu desempenho no Senado, ganhou os títulos de "senador
estrela", "senador das melhores
iniciativas" e "melhor senador". À
frente do governo de Antioquia,
promoveu uma redução de 65%
na burocracia estatal e ampliou a
infra-estrutura local, com a construção de estradas e o aumento
das linhas de transmissão de
energia e telefone.
Promoveu uma polêmica ampliação das vagas nas escolas, por
meio da concessão do ensino público a empresas privadas. O número de vagas cresceu de 50 mil
para 150 mil em três anos, mas os
críticos dizem que a qualidade do
ensino piorou substancialmente
após a privatização encoberta.
Outra de suas iniciativas polêmicas foi a redução do quadro de
funcionários públicos de 15 mil
para 5.000 pessoas. Vários dos
serviços antes prestados pelos
funcionários demitidos passaram
a ser realizados por cooperativas
de trabalhadores -muitas delas
formadas pelos próprios ex-funcionários. O que os simpatizantes
chamam de eficiência administrativa os críticos dizem que é
uma forma de economizar cortando os direitos trabalhistas.
A principal bandeira de Uribe
como governador, porém, e que
ajudou a impulsioná-lo no imaginário popular como o candidato
que pode vencer a guerrilha, foi a
chamada "pacificação do Urabá
[região oeste do Departamento]".
A região sofria desde os anos 80
com um índice de violência altíssimo, com disputas constantes
entre produtores rurais e sindicatos de trabalhadores e com a interferência de narcotraficantes,
vários grupos guerrilheiros e de
paramilitares.
Uma das ações tomadas por
Uribe e que teria ajudado a reduzir significativamente os conflitos
na região foi a conformação de
cooperativas privadas de segurança, chamadas Convivir, mais
tarde acusadas de serem embriões de grupos paramilitares.
Uribe alega que apenas duas das
cerca de 70 cooperativas estabelecidas tiveram denúncias de envolvimento com paramilitares e foram sancionadas, perdendo seu
status de pessoa jurídica.
Mas isso não evitou que os adversários o classificassem como
"candidato paramilitar". Entre
suas propostas para a Presidência
está a conformação de uma
"grande Convivir", com 1 milhão
de membros. Uribe garante que
sua proposta não é armar os cidadãos para que estes se defendam
dos ataques guerrilheiros, mas
sim formar uma rede de informação para ajudar o trabalho das
forças de segurança.
Biografia não autorizada
As denúncias contra Uribe ganharam corpo com o lançamento,
na semana passada, do livro "El
Señor de las Sombras", biografia
não autorizada do candidato de
autoria do jornalista americano
Joseph Contreras, chefe do escritório de Miami da revista "Newsweek", na qual ele faz um apanhado geral sobre antigas histórias
acerca de Uribe publicadas na imprensa e em outros livros.
Em março, Uribe expulsou
Contreras de sua sala durante
uma entrevista, após ser questionado sobre parte das denúncias,
dizendo que não aceitava que correspondentes estrangeiros viessem à Colômbia para lhe fazer
"esse tipo de perguntas e repetir
mentiras" sobre ele.
Entre as histórias relatadas por
Contreras em seu livro está um
suposto acordo de Uribe, então
prefeito de Medellín, com o chefão do narcotráfico Pablo Escobar
para capitalizar, como se fosse um
projeto da prefeitura, a construção de casas populares promovida pelo narcotraficante, então em
campanha para o Congresso.
Contreras também questiona a
versão dada pelo candidato para a
morte de seu pai, que Uribe diz ter
sido assassinado pelas Farc, na
década de 80. O jornalista levanta
suspeitas de que ele teria sido na
verdade morto por conta de desavenças com os narcotraficantes
do clã Ochoa, com os quais dividia a paixão por cavalos.
Uribe nega todas as acusações e
acusa o jornalista de ter lançado o
livro às pressas, com motivações
eleitorais. Com a grande polarização do eleitorado colombiano,
muitas livrarias declararam seu
apoio ao candidato e se negaram a
vender o livro.
(ROGERIO WASSERMANN)
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