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REINO UNIDO
Inauguração da maior mesquita da Europa ocidental dá alento a debate sobre percepção negativa dos islâmicos
Muçulmanos buscam mostrar lado pacífico do islã
MARIA LUIZA ABBOTT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
A violência está ligada à imagem do islamismo no mundo
não-muçulmano, mas, na inauguração da maior mesquita da
Europa ocidental, a Baitul Futuh,
com capacidade para 10 mil pessoas, no início do mês, em Londres, a mensagem que dominou
foi a de paz e amor. A nova mesquita é da corrente islâmica Ahmadiyya, que difere das demais
por acreditar que o messias veio
ao mundo em 1835, enquanto as
outros ainda esperam por ele.
Mas as diferenças ficam por aí,
pois a mensagem de paz e amor é
comum a todos eles, segundo os
muçulmanos. Para eles, a associação da violência ao islã tem origem no preconceito e no juízo errado feito por aqueles que não são
muçulmanos.
Mesmo assim, a maioria reconhece que a imagem violenta do
islamismo é reforçada por grupos
ativistas dentro da religião, eventos recentes como os ataques suicidas da Al Qaeda nos Estados
Unidos ou do Hamas e do Jihad
Islâmico em Israel, e até pela pregação violenta de alguns imãs, o
equivalente islâmico de um padre
ou pastor.
"A violência não tem nada a ver
com a religião. O islã não apóia
violência nem suicídio, pois a vida
é um presente de Deus", disse Salim Ahmad Malik, da Associação
Muçulmana Ahmadiyya do Reino Unido. Para ele, grupos militantes misturam religião com política e usam o islã para justificar
sua luta. "Não tem nada a ver com
islamismo como está escrito no
Alcorão", argumentou.
Em uma comunidade de 1,3 bilhão no mundo, há realmente
grupos que invocam a violência,
afirma Inayat Bunglawala, do
Conselho Muçulmano do Reino
Unido. Mas ele argumenta que a
violência se deve a problemas locais. "Na Palestina, os palestinos
resistem devido à ocupação de
sua terra pelos israelenses. Pela
mesma razão, há violência na
Tchetchênia, que foi invadida pelos russos em grande número",
disse.
Bunglawala compara a violência dentro do islamismo com o
que acontece na Irlanda do Norte,
na qual, há mais de 30 anos, existe
um conflito entre protestantes e
católicos.
"Há grupos terroristas católicos
e grupos terroristas protestantes,
mas, em outros lugares, as duas
comunidades vivem em paz. Na
Irlanda do Norte, o problema não
é religioso, mas histórico. Ele se
deve à invasão e à ocupação pelo
Reino Unido", diz.
Diferentemente do cristianismo, o islamismo não manda oferecer a outra face ao inimigo porque, segundo Malik, isso não é
prático. Ele explicou que a religião
autoriza que a pessoa se defenda
quando atacada, mas determina
que aceite a paz assim que lhe for
oferecida.
O islamismo acredita que as
guerras, às vezes, são justificadas,
embora defenda a paz, de acordo
com Malik. Mesmo assim, o Alcorão estabelece limites, e o profeta
Muhammad condena a morte de
civis e o suicídio, como os praticados em ataques por radicais.
"Há 1.400 anos, o profeta deixou
bem claro que, mesmo em guerra,
é proibido matar civis, crianças
ou mesmo destruir casas ou árvores", disse Ahmed Versi, editor do
jornal independente "Muslim
News", do Reino Unido.
Islamofobia
Para Versi, a percepção do islã
como uma religião violenta é provocada pela forma como a mídia
relata os eventos. Ele conta que,
na véspera do Natal de 2001, o Ministério do Interior britânico emitiu um alerta sobre a possibilidade
de um ataque terrorista da Al
Qaeda, e a notícia foi divulgada
como um "possível ataque de terroristas islâmicos".
"Por que usaram essa expressão, e não um ataque da Al Qaeda?
Na cobertura do conflito na Irlanda do Norte, embora seja entre católicos e protestantes, a mídia usa
as expressões republicanos, para
definir os católicos, e unionistas,
para os protestantes", comparou
Versi.
Mas ele diz que não quer acusar
ninguém, pois essa percepção do
islã e as palavras usadas partem
do subconsciente das pessoas. "É
o que nós chamamos de islamofobia. Estamos constantemente
promovendo encontros e debates
com jornalistas e integrantes da
mídia para discutir esses temas",
disse.
Já Bunglawala acha que a "demonização" e a "desumanização"
dos muçulmanos na mídia são
consequência da ignorância geral
do ocidente sobre o islamismo,
mas acusa o governo dos Estados
Unidos de estar por trás dessa
"campanha" e compara a situação dos muçulmanos hoje à dos
judeus na Alemanha no período
que antecedeu o Holocausto.
No entanto ambos reconhecem
que há violência no discurso de alguns imãs, como é o caso de Abu
Hamza, que pregava na mesquita
de Finnsbury Park, no norte de
Londres.
Em janeiro, Hamza foi afastado
pelo governo britânico e processado, depois de discursos em que
conclamava os muçulmanos a
usar a violência.
Bunglawala observa, porém,
que esse foi o caso de um imã em
uma mesquita, quando existem
mil mesquitas no Reino Unido.
"Recebeu cobertura da mídia fora
de proporção. É como se julgássemos o Reino Unido pelos partidos
racistas existentes", disse.
Segundo ele, a comunidade muçulmana no país tentou convencer as autoridades a expulsar Abu
Hamza desde que ele começou a
pregar a violência, em 1997, mas
só teve apoio no início deste ano.
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