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Bush encara desafios para 2004
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A pouco mais de 15 meses das
eleições de novembro de 2004, o
presidente dos EUA, George W.
Bush, começa a enfrentar agora
os primeiros grandes desafios de
sua administração.
Enquanto pesquisas de opinião
continuam mostrando uma queda em sua popularidade, a economia americana se recupera em
um ritmo muito mais lento do
que o esperado e aumentam os
questionamentos sobre a atuação
militar americana no Iraque.
O lado menos visível dos problemas de Bush mostra ainda um
governo federal financeiramente
em desordem e uma série de Estados praticamente falidos -o que
dificultará ainda mais a vital recuperação da economia para os planos de reeleição do presidente.
A mais recente boa notícia para
Bush, a morte na semana passada
de Uday e Qusay Hussein no Iraque, também poderá ter fôlego
curto se persistirem as mortes
quase que diárias de soldados
americanos no país.
Vislumbrando uma brecha para
o ataque, os principais pré-candidatos democratas à eleição do ano
que vem também já afinam o discurso e questionam cada vez com
mais ênfase os motivos que levaram os EUA à guerra e o fato de
não terem sido encontradas até
agora armas de destruição em
massa no Iraque.
""Pela primeira vez neste governo temos uma Casa Branca desarranjada e inábil para lidar com
problemas que vêm atraindo cada
vez mais a atenção da mídia"", afirma Jay Farrar, vice-presidente do
Centro Internacional de Estudos
Estratégicos de Washington.
Na sua opinião, o Iraque e os
motivos que levaram os EUA à
guerra não serão um ""show de final próximo", e o caso deve ser
""amplamente explorado" pelos
pré-candidatos democratas.
Sara Binder, especialista em
Congresso e partidos políticos do
Brookings Institute, afirma que
até agora Bush tem conseguido
evitar crises de dimensões maiores graças à ""blindagem" republicana no Congresso dos EUA, onde controla Câmara e Senado.
Na sua opinião, Bush ainda
consegue manter restritas as
atuais crises a Washington, mas
ela afirma que os problemas latentes devem ganhar novas dimensões quando a campanha
eleitoral esquentar.
O principal obstáculo aos planos de reeleição de Bush, no entanto, continua concentrado na
área econômica -que afeta, de
uma forma geral, todo o país.
A recuperação americana tem
sido morna, e, segundo a previsão
de especialistas (ver reportagem
no caderno Dinheiro), uma eventual retomada não terá impacto
no emprego no médio prazo.
Bush convive hoje com 9,6 milhões de desempregados no país.
Cerca de 2,6 milhões deles perderam o emprego durante o seu governo e faziam parte do setor mais
bem remunerado da economia
americana, o industrial.
Quando o ex-presidente Bill
Clinton (1993-2001) ocupava a
Casa Branca, a economia do país
viveu um ciclo de crescimento intenso e chegou a registrar uma
das menores taxas de desemprego da sua história.
Na semana passada, em discurso sobre os rumos da economia
americana, Bush afirmou que
""assumiu um país em recessão" e
responsabilizou seu antecessor
pelo atual nível de desemprego.
""De fato, a economia estava frágil no início do atual governo,
mas não há nenhuma política
consistente hoje que esteja voltada à reversão dessa situação. A
única resposta visível é o plano de
corte de impostos, que beneficia
particularmente os mais ricos"",
diz Stanley Gacek, diretor da
AFL-CIO, entidade sindical que
representa 13 milhões de trabalhadores nos Estados Unidos.
Boa parte da recuperação econômica atual também vem se
apoiando na criação de um novo
problema para o futuro: o aumento do déficit fiscal, que só em 2003
deve atingir US$ 455 bilhões e que
deve ser somado aos ""buracos"
dos anos anteriores.
Somente em 2003, os EUA devem pagar US$ 156 bilhões em juros por conta de sua dívida interna. O valor corresponde a três vezes o que a área federal gasta
anualmente em educação.
Quando assumiu, Bush contava
com um superávit nas contas do
governo projetado em US$ 5,6 trilhões para os próximos dez anos.
O presidente se comprometeu a
usar o dinheiro para ampliar o seguro social americano e para promover cortes de impostos.
Apenas a segunda parte da promessa vem sendo cumprida, e
com valores bem abaixo do que
foi anunciado inicialmente.
Hot dog de US$ 2.000
O grande trunfo que Bush ainda
guarda é a montagem de um rolo
compressor para tocar os seus
planos eleitorais.
Dos US$ 170 milhões que o comitê eleitoral de Bush pretende
arrecadar até meados de 2004,
quase 20% já estão em caixa.
Há algumas semanas, Bush vem
provendo uma maratona de
eventos nas principais capitais do
país onde simpatizantes do Partido Republicano, na maioria empresários, comparecem dispostos
a contribuir com um mínimo de
US$ 2.000 para participarem de
jantares onde são servidos apenas
hot dog e refrigerante -degustados de pé pelos presentes.
Do lado democrata, em que nove pré-candidatos disputam a
preferência do partido, as apostas
começam a afunilar em torno de
dois postulantes: Howard Dean,
ex-governador de Vermont, e
John Kerry, que é senador por
Massachusetts.
Dean e Kerry estão na dianteira
na arrecadação de fundos e já engrenaram um discurso mais ácido
sobre a atuação americana no Iraque, principalmente em relação à
morte de soldados americanos no
país, assunto que sensibiliza cada
vez mais a opinião pública.
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