|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMPORTAMENTO
Liberalização das leis de adoção nos anos 90 possibilita a 2 milhões de casais gays americanos adotarem filhos
Homossexuais promovem "gayby boom" nos EUA
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Nunca na história dos EUA tantas crianças voltaram da escola e
contaram o que aprenderam para
papai e papai ou mamãe e mamãe. Segundo o último grande levantamento da população norte-americana feito pelo governo, há
hoje em dia pelo menos 2 milhões
de casais homossexuais masculinos e femininos criando filhos,
adotados ou não. O fenômeno foi
batizado de "gayby boom".
O nome faz trocadilho com o
"baby boom", termo em inglês
criado para designar a explosão
de nascimentos que ocorreu logo
após a Segunda Guerra Mundial.
Os filhos do "baby boom", dos
quais o ex-presidente Bill Clinton
foi um dos representantes mais
famosos e poderosos, têm hoje 50
anos em média e são o principal
mercado consumidor do país.
O "gayby boom" é bem mais recente e reúne homossexuais de
todas as idades. No final dos anos
90, com a liberalização das leis de
adoção nos EUA, cada vez mais
casais gays puderam virar pais ou
mães adotivos legitimamente, o
que, por tabela, acabou estimulando outros pares que pensavam
em conceber naturalmente ou
com pais e mães de aluguel e criar
os filhos em lares gays.
Hoje, há 3 milhões de crianças
vivendo em famílias não-convencionais, e esta pequena multidão
deve chegar a 3,4 milhões em dois
anos. Apesar de não haver levantamentos confiáveis ao longo da
história, o número é inédito, afirma a empresa de marketing Witeck-Combs, voltada para o mercado homossexual.
E deve aumentar, de acordo
com a Witeck: segundo pesquisa
recente realizada pela firma, quase metade dos casais gays sem filho ouvidos disseram ter vontade
ou planos de ter ou adotar uma
criança nos próximos anos.
US$ 22 bilhões
O interesse do mercado no assunto se explica em cifras. O
"gayby boom" deve movimentar
US$ 22 bilhões neste ano só em
artigos infantis, educação e alimentação. "Casais com filhos deram uma nova dimensão ao mercado gay", disse Don Montuori,
editor da Packaged Facts, empresa que co-patrocina as pesquisas
dirigidas da Witeck.
De acordo com ele, até hoje os
anunciantes voltados para a comunidade se concentravam em
viagem, moda e bebidas. "Mas,
quanto mais cresce o número de
lares gays, mais se amplia o seu
raio de consumo, e os publicitários começam a perceber que é aí
que estão os próximos dólares a
ser ganhos", disse Montuori.
A constatação do boom acontece num momento particularmente favorável aos casais gays na sociedade americana. Há dois meses, o prestigioso jornal "The New
York Times" anunciou que passaria a publicar avisos de casamentos homossexuais em sua tradicional página dominical. Logo o
"Boston Globe" avisou que seguiria política editorial semelhante.
"Para serem listados, os casais
de mesmo sexo devem ter sua
parceria confirmada numa cerimônia oficial", avisou o diário. Os
dois provocaram um efeito cascata. Na mesma semana do anúncio
do "Boston Globe", o "Charlotte
Observer", da Carolina do Norte,
e o "St. Louis Post-Dispatch", do
Missouri, tomaram decisões de
igual teor.
Hoje, segundo a ONG norte-americana Aliança Gay e Lésbica
contra a Difamação, há 139 jornais no país que aceitam anúncios
de uniões homossexuais.
Além disso, gays famosos assumidos como a comediante Rosie
O'Donnell estão perdendo o medo de aparecer na mídia para falar
de seus relacionamentos e da criação de seus filhos (no caso de
O'Donnell, são três crianças, com
uma quarta a caminho, já que sua
companheira engravidou por inseminação artificial).
Há hoje nos EUA 14,2 milhões
de homossexuais, segundo cálculos das ONGs (o governo é proibido por lei de perguntar em seu
censo a orientação sexual do entrevistado). Esse contingente deve
consumir US$ 600 bilhões em
2007, total que já chega a mais de
dois terços disso hoje em dia.
Texto Anterior: Guerra sem limites: EUA vivem dia de manifestações pacifistas Próximo Texto: Consumidores valorizam "gay-friendly" Índice
|