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DIREITOS DAS CRIANÇAS
Situações como as encontradas nas plantações de banana do Equador se repetem no continente
Trabalho infantil continua a desafiar América Latina
JUAN FORERO
DO "THE NEW YORK TIMES"
Na fazenda Los Alamos, parece
que nenhuma despesa é poupada
para produzir as bananas da marca Bonita, vendidas nos EUA.
A moderna fazenda de 1.200
hectares no Equador é uma das
mais eficientes da América Latina
e emprega 1.300 pessoas para cuidar de bananeiras irrigadas por
um sistema de ponta.
O dono é Alvaro Noboa, o homem mais rico do Equador. Ele se
tornou o candidato a presidente
mais popular com a ajuda de uma
campanha de marketing impecável que o retrata como amigo dos
pobres. "Eu amo os trabalhadores
de Los Alamos", disse Noboa ao
anunciar sua candidatura.
Mas, em entrevistas, uma dezena de crianças e muitos adultos
falaram que há trabalho infantil
em Los Alamos. Esteban Menendez, 10, está entre eles. "Eu venho
para cá depois da escola e trabalho o dia inteiro", diz. "Tenho de
trabalhar para ajudar meu pai."
A presença de crianças na plantação de um homem que pode
vencer a eleição presidencial do
Equador em outubro é um dos
exemplos mais gritantes de quão
duradouro o uso de trabalho infantil permanece na América Latina, onde se estima que cerca de
42 milhões de crianças de 5 a 14
anos trabalham.
O trabalho infantil é geralmente
utilizado em propriedades agrícolas, grandes ou pequenas.
Por dois anos, Esteban e sua família dizem, o menino vem cuidando de bananeiras de mais de 4
m de altura, amarrando cordas
cheias de inseticida para estabilizar troncos que poderiam ser derrubados pelo peso do produto
que está por trás da fortuna de
mais de US$ 1 bilhão de Noboa.
Ele trabalha de graça para evitar
que o pagamento de seu pai, que
cuida de 40 hectares, seja cortado.
O problema do Equador é menos grave do que o de outros países da região. Mesmo assim, a Organização Internacional do Trabalho estimou que 69 mil crianças
de 10 a 14 anos e 325 mil jovens de
15 a 19 anos estavam trabalhando
aqui em 1999.
Apenas um aumento significativo de salários -na melhor das hipóteses, uma perspectiva distante
em um país onde o trabalhador
médio ganha US$ 5,74 por dia-
vai evitar que famílias enviem
seus filhos às fazendas, dizem defensores dos direitos das crianças.
Mas a situação das crianças está
longe de ser simples.
Quando muitas fazendas, temendo chamar atenção, mandaram embora seus trabalhadores
mirins depois de um desastroso
relatório de 114 páginas da Human Rights Watch, a medida foi
tomada como uma catástrofe pelas famílias do sul do Equador.
"Eles mandaram todas as crianças embora, mas o trabalho que
elas faziam nos ajudava", disse
Maria Narvaez, 31, cujos filhos,
Nestor,12, e Luis, 13, foram demitidos de uma propriedade onde
ganhavam US$ 3 por dia.
Apesar de ninguém saber exatamente quantas crianças trabalham nas grandes plantações do
Equador, Sergio Seminario, analista e ex-presidente da Associação dos Exportadores de Banana,
estima que haja 6.000, além de outros milhares trabalhando em pequenas propriedades familiares.
O Ministério do Trabalho sabe
há muito do problema na indústria, responsável por 20% das exportações do Equador. Mas Alberto Montalvo, o funcionário de
mais alto escalão nesta região, diz
que é difícil de ser eliminado. "Temos de reconhecer que todos os
membros das famílias têm de trabalhar para poder pagar por artigos básicos."
A existência do trabalho infantil
em plantações é um produto da
aritmética simples e de exploração anormal. Os chefes de família
aqui dizem que ganham entre
US$ 6 e US$ 7 por dia trabalhando
na plantação, mas frequentemente precisam trabalhar seis ou sete
dias por semana, sem ganhar as
horas extras garantidas por lei. O
salário mínimo é de US$ 128 por
mês no Equador. Mas a quantia
que ganham é menor do que os
US$ 220 mensais que o governo
afirma serem necessários para cobrir as despesas básicas de uma
família de quatro pessoas, então
as crianças vão trabalhar.
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