|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA
Escândalos corporativos derrubam popularidade de Bush e podem levar democratas a retomar o controle do Congresso
Economia ameaça republicanos em eleições
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
"É a economia, estúpido." Com
esse mote, criado pelo consultor
político James Carville, Bill Clinton decifrou o desejo dos eleitores
norte-americanos e derrotou o
então presidente, George Bush,
nas eleições presidenciais de 1992.
Dez anos depois, o mesmo lema
ameaça a popularidade de George
W. Bush, o segundo "Bush" na
Casa Branca, e o desempenho do
Partido Republicano nas eleições
legislativas de novembro.
Um em cada cinco eleitores republicanos admite que poderá
votar em candidatos democratas
devido aos escândalos corporativos, à queda das Bolsas e ao receio
de que esses dois fatores contaminem a economia real dos EUA.
Seis em cada dez americanos perderam dinheiro nas Bolsas de Valores nos últimos seis meses.
No dia 5 de novembro, os norte-americanos irão renovar um terço
do Senado e a Câmara dos Deputados. Serão eleições decisivas. Os
democratas precisam obter sete
cadeiras dos republicanos para
conquistar a maioria na Câmara
dos Deputados.
No Senado, os republicanos
precisam adicionar um senador à
sua bancada para retomar o controle da casa, que perderam no
ano passado. Um Congresso controlado pela oposição poderia
comprometer as chances de Bush
de reeleger-se à Presidência nas
eleições de 2004.
Popularidade
Bush ainda é um presidente extremamente popular. Para 62%
da população, ele ainda tem "as
qualidades necessárias a um presidente" (dados de pesquisa
NBC/"The Wall Street Journal") e
tem sido eficaz na guerra contra o
terror.
No entanto a popularidade do
presidente caiu de seu pico de
90%, registrado semanas após os
atentados de 11 de setembro, para
um patamar de 70%. As pesquisas
apontam uma tendência de queda nos índices de aprovação a seu
governo, somada a uma desconfiança com relação à sua isenção
para atacar as grandes corporações do país.
Para a maioria dos americanos,
os problemas econômicos preocupam mais que o terrorismo e o
país está caminhando na direção
errada. Segundo pesquisa recente
CBS/"The New York Times", só
38% confiam nas decisões de
Bush para controlar as fraudes
das grandes corporações; 50%
acham que a administração toma
decisões erradas sobre economia.
Nas ruas de cidades como Washington e Nova York, os americanos reagem de formas distintas à
crise. Jovens, com cartões de crédito nas mãos, continuam consumindo como se a bolha da economia não tivesse estourado em
2000. Ao mesmo tempo, a população acima de 40 anos mudou
seus hábitos, frequenta menos
restaurantes e fugiu dos shopping
centers.
Uma classe de descontentes surgiu no país. Em 2001, antes dos escândalos corporativos, as falências individuais já haviam atingido 1,4 milhão, recorde histórico
que deverá ser batido em 2002.
Idosos foram obrigados a voltar a
trabalhar depois de perderem
suas economias nas Bolsas. Para
cobrir dívidas contraídas para investir nas Bolsas, milhares de
americanos venderam suas próprias casas para, depois, refinanciá-las. Essa classe confia em Bush
para protegê-la contra terroristas,
mas desconfia de suas intenções
no campo econômico.
O presidente transformou-se
em personagem do escândalo
corporativo ao ser obrigado a responder a acusações de que, em
1989, quando era membro do
conselho de diretores e do comitê
de auditoria da companhia Harken Energy, teria se beneficiado
de operações fraudulentas similares às que destruíram a credibilidade de companhias norte-americanas como a Enron e a WorldCom.
Segundo Robert Shaphiro, cientista político da Universidade Columbia, há uma divisão na cabeça
do eleitor norte-americano. "O
público está usando o terrorismo
e a segurança nacional para julgar
a performance do presidente, mas
não para decidir seu voto em novembro", disse ele.
Os americanos não vêem em
Bush a mesma capacidade de encontrar uma saída político-institucional para a crise como a oferecida ao país pelo democrata Franklin Roosevelt, que ocupou a Casa
Branca depois do crash de 1929.
Para restabelecer a confiança
dos mercados, Roosevelt criou a
SEC (o xerife dos mercados nos
EUA) e colocou empresários na
cadeia. Bush, por sua vez, esforça-se para evitar que essa mesma
SEC divulgue dados sobre as transações suspeitas que fez com as
ações da Harken.
Componente histórico
Os eleitores vêem nas eleições
de novembro uma chance de se
contraporem às políticas domésticas de Bush para a economia.
Mas também há um componente
histórico guiando os eleitores.
Desde 1934, eleitores tendem a
votar na oposição nas "midterm
elections", como são chamadas as
eleições que acontecem no meio
dos mandatos presidenciais.
Essa tendência se verifica independentemente da popularidade
dos presidentes, como um mecanismo natural dos americanos
para reforçar o controle da Casa
Branca por meio do fortalecimento da oposição no Congresso.
Texto Anterior: Direitos das crianças: Trabalho infantil continua a desafiar América Latina Próximo Texto: Hollywood intensifica cooperação com CIA e Pentágono Índice
|