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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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ELEIÇÃO NA CALIFÓRNIA

Declarações sexistas e partido afastam Schwarzenegger do eleitorado feminino

Mulheres são ponto fraco na campanha do "Exterminador"

KATHARINE Q. SEELYE
JOHN M. BRODER
DO ""NEW YORK TIMES"

Maria Shriver, membro de uma família democrata muito famosa nos Estados Unidos, chegou ao estacionamento de um Wal-Mart em Sacramento numa tarde de sexta-feira, em sua primeira aparição sozinha na campanha de seu marido, Arnold Schwarzenegger, republicano que concorre ao governo da Califórnia no próximo dia 7 de outubro.
Mas sua iniciativa logo se tornou um caos. Ela foi recebida por cerca de 30 sindicalistas que gritavam palavras de ordem, rejeitando a eleição especial para o governo do Estado e denunciando as políticas trabalhistas do Wal-Mart. Menos de dez minutos depois, e 35 minutos antes do previsto, Shriver foi levada embora.
Sua visita ao local visava algo mais do que simplesmente conseguir o apoio de mais algumas dezenas de eleitores e divulgar um comunicado insosso de apoio ao marido. Shriver tenta abrandar a imagem de Schwarzenegger e combater uma sombra sobre suas perspectivas eleitorais. Como quase todos os candidatos republicanos na Califórnia, Schwarzenegger enfrenta um problema com o eleitorado feminino, que tende a preferir os democratas.
Mas a carreira de halterofilista e, mais tarde, astro de ação, somada ao suposto comportamento grosseiro e a comentários chauvinistas, agravou o problema.
Segundo analistas políticos, ele já perdeu eleitoras no "recall" do atual governador, quando os eleitores dirão se querem ou não a permanência de Gray Davis, reeleito no ano passado. Caso não queiram, devem escolher o substituto -o ator é uma das opções.
Para melhorar a performance, Schwarzenegger tomou partido em algumas questões sociais que tendem a atrair o voto feminino, manifestando apoio ao aborto, a medidas de controle de armas de fogo e de proteção ambiental.
Mas nem isso reduziu a desvantagem, afirma o consultor republicano Allan Hoffenblum. ""Basta ver os filmes que ele já fez, sua carreira e as declarações que ele já deu -sem falar que é republicano", disse. ""É claro que ele tem um problema com as mulheres."
A campanha de Schwarzenegger reconhece sua debilidade entre as mulheres, e, segundo assessores do candidato, a crescente visibilidade de Maria Shriver, 47, é parte da resposta a isso.
As primeiras semanas da campanha do ator foram dedicadas a questões econômicas e fiscais, que tendem a interessar mais aos homens. Ele também buscou consolidar seu apoio entre os republicanos e os independentes de direita, indo a programas de entrevista conservadores no rádio -outra iniciativa repudiada por muitas mulheres.
Agora, a campanha quer ampliar a base de apoio, e Shriver está na vanguarda da tentativa de atrair eleitoras. Filha de Eunice Shriver Kennedy e sobrinha de John e Robert Kennedy, ela integra a família democrata mais famosa dos Estados Unidos.
""Fui voluntária numa campanha política pela primeira vez aos cinco anos", ela contou no dia em que ajudou o marido a inaugurar um comitê em Santa Monica. ""Fiquei do lado de fora de uma loja de departamentos em Chicago, no inverno, e ajudei minha mãe e meu irmão a entregar folhetos."
Em nenhum momento Shriver identificou sua família ou os candidatos pelo nome, nem mencionou seu partido. ""Se você é democrata, é bem-vindo aqui", disse aos voluntários reunidos diante do comitê. Em seguida, falou sobre o marido. ""Ele é um dos homens mais solidários, gentis e de cabeça aberta que já conheci", disse. ""Eu o conheço desde os 21 anos e sei que não estaria onde estou -na carreira, como mulher- se não fosse seu apoio."
Schwarzenegger perdeu pontos com as mulheres quando comentários feitos anos atrás vieram à tona com a candidatura.
Numa entrevista à extinta revista ""Oui", o ator disse ter praticado sexo grupal e falou dos benefícios do sexo antes das competições de fisiculturismo. Schwarzenegger, o candidato, disse que inventou os episódios para promover um documentário sobre sua vida.
Um artigo publicado na revista ""Première" em março de 2001 disse que o ator teria bolinado mulheres em sets de filmagem e durante entrevistas. Ele negou.
De acordo com artigo publicado em julho pela ""Entertainment Weekly", o ator, comentando seu novo filme, ""O Exterminador do Futuro 3 - A Rebelião das Máquinas", teria dito que gostou de fazê-lo porque, afinal, ""quantas vezes na vida você tem a chance de pegar uma mulher e mergulhar a cara dela numa privada?".
Grupos de mulheres e democratas o acusam de comportamento sexual predatório.
Questionado sobre as declarações à "Oui", o candidato disse ter ""o mais profundo respeito pelas mulheres". ""Eu disse coisas malucas? Você tem toda razão. Eram os anos 70, e estávamos promovendo o fisiculturismo", afirmou.
""Tentávamos conseguir manchetes, e, às vezes, eu dizia coisas exageradas e inverídicas. Mas é preciso esquecer os anos 70. Naquela época eu era uma pessoa diferente."


Tradução de Clara Allain

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