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CALIFÓRNIA
Grupos alegam que gansos e marrecos são maltratados e atacam restaurantes ; chefs defendem a iguaria
Ativistas dos direitos dos animais lançam guerra ao foie gras
PATRICIA LEIGH BROWN
DO ""NEW YORK TIMES"
Os ramos de oliveira em baixo-relevo finalmente secaram nas paredes de reboco veneziano do Sonoma Saveurs, o mais recente
templo da culinária artesanal
aberto na praça principal de Sonoma, Califórnia. Mas não se deixe enganar: a paz é a última coisa
que você encontrará por aqui.
No mês passado, o Sonoma Saveurs foi atacado por vândalos
que o picharam e inundaram devido a uma iguaria que vai aparecer em seu cardápio: o foie gras,
ou fígado engordado de marrecos
e gansos alimentados à força.
Os especialistas vêem o foie gras
como a epítome do que existe de
mais civilizado em termos de culinária. Mas os ativistas em defesa
dos direitos dos animais que reivindicaram o ataque ao restaurante -além de outros anteriores
às residências do chef do restaurante e de seu sócio- descrevem
o foie gras como o ""manjar do desespero", fruto de atos de crueldade cometidos contra animais.
Nessa parte da Califórnia, onde
comer e beber bem é visto como
uma arte, o fiasco do foie gras já
virou uma questão incendiária
nas disputas políticas travadas em
torno de comida. E, à medida que
a proveniência daquilo que se come vai virando motivo de preocupação cada vez maior no país, a
mesma coisa se passa com os métodos usados para criar as aves, os
porcos e os bezerros que chegam
à mesa do consumidor.
O FBI qualificou os ataques cometidos em Sonoma como atos
de terrorismo doméstico, e especialistas dizem que foi a primeira
vez que um chef de cozinha foi escolhido como alvo. ""Normalmente os alvos são pessoas que exercem muito poder", disse Laurent
Manrique, que serve foie gras
com avelãs e pistache ou com molho reduzido no restaurante Acqua, em San Francisco. ""Sou apenas um artesão."
Os ataques começaram no final
de julho em Mill Valley, quando
vândalos foram até a casa de Manrique, 38, o chef e um dos proprietários do Sonoma Saveurs, jogaram ácido sobre seu carro, encheram a fechadura de sua porta
com cola e picharam seu muro
com dizeres como ""Pare ou Seja
Parado". Mais preocupante ainda, eles deixaram no local uma fita de vídeo, gravada através de
uma janela, mostrando Manrique
e sua família, incluindo seu filho
de dois anos, brincando na casa.
Vândalos também atacaram a
casa do sócio de Manrique, o
francês Didier Jaubert, 46. O Sonoma Saveurs pertence aos dois, a
suas mulheres e ao casal Guillermo e Junny Gonzalez, que também é dono do Sonoma Foie
Gras, o único estabelecimento a
fazer foie gras no oeste dos EUA.
Em 12 de agosto os ativistas atacaram o café, pichando suas paredes e inundando a casa. Num site,
disseram que o fizeram para simbolizar os danos causados ao sistema digestivo dos gansos pelo inchaço forçado de seus fígados.
Na semana passada um grupo
que disse se chamar Gourmet
Cruelty (crueldade dos gourmets)
enviou a uma agência de notícias
em San Francisco fitas de vídeo
que documentam o que seus
membros descreveram como tortura de animais na Sonoma Foie
Gras, em Farmington, Califórnia.
Quatro autoproclamados
""combatentes pela liberdade dos
marrecos" entraram escondidos
num galpão da fazenda de Gonzalez, ""resgatando" quatro marrecos numa missão que eles e outros
igualaram a uma fuga de escravos.
""Essas aves são literalmente escravas de nossos apetites", disse
Kelah Bott, 29, do Gourmet
Cruelty, afirmando já ter ""libertado" animais em outras ocasiões.
Camisetas de apoio a Manrique
vêm sendo distribuídas entre
chefs na região de San Francisco.
""Lute Contra o Abuso do Tofu",
dizem seus slogans -""Coma
Foie Gras".
Os chefs defendem seu direito
de servir a iguaria. ""Meu dever como chef não é dizer às pessoas o
que devem comer", disse Gary
Danko, do restaurante Gary Danko, em San Francisco. Como muitos de seus colegas aqui e em Nova York, Danko vê o foie gras como um de seus pratos mais famosos. ""É delicioso."
Tradução de Clara Allain
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