São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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Medo turbina interesse pela política externa

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

"É a economia, estúpido." A frase, cunhada pelo marqueteiro americano James Carville e norte da bússola da candidatura do democrata Bill Clinton em 1992, é coisa do passado. Mas pode ser reutilizada, se a palavra "economia" der lugar a "terrorismo" ou "política externa".
Para analistas ouvidos pela Folha, o slogan foi válido, em maior ou menor grau, por cerca de três décadas. Mas, eles dizem, desde o 11 de Setembro, a política americana mudou, colocando a política externa pela primeira vez, desde a Guerra do Vietnã (1965-75), como assunto tão ou mais importante que a economia, num fenômeno semelhante ao que aconteceu na Guerra Fria, e motivado pela mesma razão: o medo de que o país seja atacado.
"Questões internacionais, antes dos anos 70, eram geralmente tão ou mais importantes que a economia. Nos anos 50 e 60 isso não seria surpreendente. Estamos falando de uma época -o auge da Guerra Fria- em que os americanos estavam constantemente com medo de um ataque nuclear", afirma Matthew Baum, cientista político da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
"Daí pra frente, as pessoas passaram a ficar menos preocupadas com um possível confronto com a União Soviética. Havia menos medo de ataque nuclear. E, finalmente, nos anos 90, depois do fim da Guerra Fria, as questões internacionais realmente saíram do mapa. Até o 11 de Setembro."
A mudança, diz Morris Fiorina, da Universidade Stanford, representa uma nova tendência de longo prazo, semelhante àquela vivida na época do conflito com a URSS, só que agora a ameaça é o terrorismo islâmico.
Em pesquisa no início do mês, o Pew Research Center constatou que, pela primeira vez desde o Vietnã, o assunto apontado como o mais importante pelo maior número de entrevistados foi a política externa. Do total, 41% disseram ser o tema central para as eleições deste ano, enquanto 26% apontaram a economia.
Exatamente a mesma proporção foi encontrada nos chamados Estados-pêndulo, considerados os mais importantes na disputa deste ano por serem os que podem pender tanto para o republicano George W. Bush quanto para o democrata John Kerry.
O número ali é mais significativo, porque muitos desses Estados passam por problemas econômicos maiores que o país como um todo, que também não vai muito bem -a geração de empregos não tem sido a esperada e a quantidade de americanos vivendo na pobreza cresceu 1,3 milhão em 2003.
Para Paul Taylor, vice-presidente do Pew, no entanto, o resultado "não é surpreendente, apesar de a economia não estar indo muito bem e, como vimos, a pobreza estar aumentando".
"O bolso é sempre importante", ele diz, "mas questões de vida ou morte são ainda mais importantes; e para muitos americanos, a ameaça terrorista é vista dessa maneira".


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