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Medo turbina interesse
pela política externa
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
"É a economia, estúpido." A frase, cunhada pelo marqueteiro
americano James Carville e norte
da bússola da candidatura do democrata Bill Clinton em 1992, é
coisa do passado. Mas pode ser
reutilizada, se a palavra "economia" der lugar a "terrorismo" ou
"política externa".
Para analistas ouvidos pela Folha, o slogan foi válido, em maior
ou menor grau, por cerca de três
décadas. Mas, eles dizem, desde o
11 de Setembro, a política americana mudou, colocando a política
externa pela primeira vez, desde a
Guerra do Vietnã (1965-75), como assunto tão ou mais importante que a economia, num fenômeno semelhante ao que aconteceu na Guerra Fria, e motivado
pela mesma razão: o medo de que
o país seja atacado.
"Questões internacionais, antes
dos anos 70, eram geralmente tão
ou mais importantes que a economia. Nos anos 50 e 60 isso não seria surpreendente. Estamos falando de uma época -o auge da
Guerra Fria- em que os americanos estavam constantemente
com medo de um ataque nuclear", afirma Matthew Baum,
cientista político da Universidade
da Califórnia, em Los Angeles.
"Daí pra frente, as pessoas passaram a ficar menos preocupadas
com um possível confronto com a
União Soviética. Havia menos
medo de ataque nuclear. E, finalmente, nos anos 90, depois do fim
da Guerra Fria, as questões internacionais realmente saíram do
mapa. Até o 11 de Setembro."
A mudança, diz Morris Fiorina,
da Universidade Stanford, representa uma nova tendência de longo prazo, semelhante àquela vivida na época do conflito com a
URSS, só que agora a ameaça é o
terrorismo islâmico.
Em pesquisa no início do mês, o
Pew Research Center constatou
que, pela primeira vez desde o
Vietnã, o assunto apontado como
o mais importante pelo maior número de entrevistados foi a política externa. Do total, 41% disseram
ser o tema central para as eleições
deste ano, enquanto 26% apontaram a economia.
Exatamente a mesma proporção foi encontrada nos chamados
Estados-pêndulo, considerados
os mais importantes na disputa
deste ano por serem os que podem pender tanto para o republicano George W. Bush quanto para o democrata John Kerry.
O número ali é mais significativo, porque muitos desses Estados
passam por problemas econômicos maiores que o país como um
todo, que também não vai muito
bem -a geração de empregos
não tem sido a esperada e a quantidade de americanos vivendo na
pobreza cresceu 1,3 milhão em
2003.
Para Paul Taylor, vice-presidente do Pew, no entanto, o resultado
"não é surpreendente, apesar de a
economia não estar indo muito
bem e, como vimos, a pobreza estar aumentando".
"O bolso é sempre importante",
ele diz, "mas questões de vida ou
morte são ainda mais importantes; e para muitos americanos, a
ameaça terrorista é vista dessa
maneira".
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