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MISSÃO NO CARIBE
Soldados brasileiros no Haiti devem respeitar decálogo das Nações Unidas com regras de comportamento
Empatia vale mais que arma na força de paz
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
A principal arma dos soldados
em missões de paz das Nações
Unidas não são o fuzil e os blindados que eles muitas vezes levam.
São a empatia com a população
local e a capacidade de dialogar
com as duas partes em conflito,
segundo veteranos de missões de
paz.
Os 1.200 soldados brasileiros da
força de paz fazem parte de um
total de mais de 8.000 homens e
mulheres da chamada Missão de
Estabilização da ONU no Haiti,
que a partir de terça-feira começa
a tomar o lugar da Força Interina
Multilateral (FIM), liderada pelos
Estados Unidos.
A missão internacional tem prazo de dois anos para ficar no país
(a permanência inicial dos brasileiros é de seis meses, mas pode
ser prorrogada). No ano que vem
deverão ocorrer novas eleições,
prevendo-se que um novo presidente assuma o cargo em fevereiro de 2006.
"O soldado brasileiro, cordial
por natureza, por características
próprias de nossa cultura miscigenada, multirracial, e amparado
pela boa formação profissional
que recebe, mostra aptidão muito
acima da média para esse tipo de
operação militar", disse o general
Francisco Roberto de Albuquerque, comandante do Exército.
O destacamento precursor brasileiro chegou na manhã de ontem à capital haitiana, Porto Príncipe. São 42 militares embarcados
em cinco aviões de transporte C-130 Hércules lotados de equipamento. Amanhã, mais 150 militares embarcam em outros quatro
C-130. A maior parte do equipamento, contêineres e veículos está
seguindo em navios da Marinha.
O país, que tem uma população
de cerca de 7,5 milhões de habitantes, foi pacificado por um número pequeno de soldados após a
rebelião que resultou na queda do
presidente Jean-Bertrand Aristide. A força multilateral conta com
apenas 3.500 homens, dos quais a
maior parte é constituída por fuzileiros navais americanos (1.940
homens).
Outras tropas são da França,
Canadá e Chile. Apenas os chilenos deverão continuar por mais
tempo. A força da ONU deverá ter
componentes principalmente da
América Latina, como Argentina,
Uruguai e Paraguai.
Parte da tropa brasileira, o 19º
Batalhão de Infantaria Motorizado, de São Leopoldo (RS), já foi
preparada para missões de paz.
O treinamento inclui o aprendizado das regras de conduta específicas nesse tipo de missão. Como parar um automóvel, guarnecer um posto de controle, fazer
uma busca, ou como lidar com
manifestantes são alguns exemplos de tarefas que têm de ser treinadas.
A empatia que o soldado da
ONU precisa mostrar é resumida
em três palavras que começam
com "f", em inglês: firm (firme),
fair (justo, imparcial) e friendly
(amigável).
A ONU já teve transtornos no
passado com tropas em missão de
paz que causaram problemas e
colocaram a própria operação em
risco. Foi o caso, por exemplo, de
canadenses que se envolveram
em violência na Somália. Às vezes, a simples presença de militares estrangeiros pode trazer conseqüências como o grande aumento na prostituição.
Decálogo
Por isso a ONU criou um decálogo com as regras de comportamento dos "capacetes azuis". O
objetivo é evitar atritos com a população local.
De acordo com o decálogo, o
soldado deve se comportar com
dignidade e disciplina. Deve respeitar a lei e os costumes locais.
Deve tratar os habitantes com
cortesia e não solicitar presentes
ou recompensa material.
Também deve respeitar os direitos humanos, cuidar do equipamento da ONU, mostrar cortesia militar aos membros de outros
contingentes, respeitar o ambiente, não consumir drogas nem álcool em excesso e usar de discrição ao lidar com informações
confidenciais.
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