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POPULAÇÃO
Entrada de imigrantes atinge níveis inéditos, formando uma imensa massa pobre e potencialmente explosiva
EUA enfrentam "bomba demográfica"
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A entrada de novos imigrantes
nos EUA deve bater um novo recorde neste ano, atingindo a casa
de 1,5 milhão de pessoas.
No final de 2003, cerca de 12%
dos 290,3 milhões de americanos
serão compostos de pessoas nascidas fora do país -são quase 35
milhões de habitantes.
O ritmo atual da imigração nos
EUA, já caracterizado como uma
""bomba demográfica", não tem
precedentes na história, seja em
termos absolutos ou relativos.
Vistos como uma questão explosiva, de consequências imprevisíveis, ou como um patrimônio
em um planeta que envelhece rapidamente, sobretudo nas economias dos países desenvolvidos, os
imigrantes estão transformando
os EUA e criando vários novos
desafios.
A até então considerada ""grande onda" migratória para os EUA
havia ocorrido no início do século
passado, entre 1900 e 1910. No período, o número de habitantes
que não haviam nascido no país
aumentou em 31%.
Nos anos 90, esse número foi
superado de longe. A população
de habitantes dos EUA nascidos
fora cresceu 57%, saltando de 19,8
milhões para 31,1 milhões em
2000.
Hoje, os EUA têm o triplo de
imigrantes que tinham nos anos
70 e o dobro do verificado nos
anos 80, segundo o Centro de Estudos da Imigração (CEI), órgão
independente com maior autoridade no assunto.
Atualmente, 60% do crescimento anual da população norte-americana é originado por novos imigrantes ou pelo nascimento de filhos dos estrangeiros já estabelecidos no país.
Mais de um quarto dos cerca de
33,5 milhões de imigrantes vivendo nos EUA é de ilegais, que chegam a um ritmo ""líquido" (descontando mortes e legalizações)
de 500 mil ao ano.
Os cerca de 9 milhões de imigrantes ilegais no país praticamente não têm acesso à saúde pública e alguns Estados ameaçam
agora proibi-los de colocar seus
filhos em escolas públicas.
Os ilegais, e também boa parte
dos já legalizados, praticamente
não têm poupança ou proteção
previdenciária. Assim, criam uma
nova geração de americanos que
frequentam péssimas escolas públicas nas grandes cidades e que
dificilmente chegarão a uma universidade.
Explosão de problemas
""Os EUA estão diante de uma
escolha-chave. Integrar os imigrantes e criar uma nova força na
sociedade ou esperar pela explosão de seus problemas", diz Stephen Klineberg, sociólogo da Rice
University, do Texas, considerado
hoje o grande especialista em imigração no país (leia entrevista na
página seguinte).
Os problemas, no entanto, já estão presentes e são crescentes.
Estudo realizado pelo Conselho
Nacional de Pesquisas (CNP), órgão da Academia Nacional de
Ciência dos EUA, revela que os
imigrantes americanos causam
um déficit fiscal de até US$ 22 bilhões por ano ao país.
O valor equivale à diferença entre o que os imigrantes (legais e
ilegais) pagam em impostos e o
que consomem em serviços públicos nos EUA.
Na Califórnia, o Estado com
maior número de imigrantes, os
ilegais chegam a custar cerca de
US$ 3 bilhões ao ano.
Steven Camarota, diretor de
pesquisas do CEI, aponta os três
principais motivos do crescente
déficit fiscal causado pelos imigrantes: eles têm mais filhos que a
média da população e por isso
consomem mais verbas de educação; são mais pobres e recebem a
maior parcela da transferência de
renda; e pagam menos impostos
por ganharem menos.
Pesquisa realizada pela Federação Americana de Consumidores,
com dados do Fed (o banco central dos EUA), revelou que a riqueza média acumulada entre as
famílias hispânicas, por exemplo,
é de US$ 11,4 mil, contra US$ 86,1
mil da média de todas as famílias
americanas.
Salários aviltados
Outro estudo, do CNP, mostra
que os imigrantes, especialmente
os ilegais, estão aviltando os salários de profissões menos qualificadas nos EUA.
Nos últimos 15 anos houve uma
queda de 44% na média dos salários dos americanos que abandonam os estudos antes de completar o equivalente ao ensino secundário no Brasil.
A conclusão é que, para competir com os imigrantes, os americanos nativos foram obrigados a se
sujeitar a ganhos menores.
Segundo Kevin O"Neill, pesquisador do Instituto de Políticas Migratórias, apesar de causarem distorções salariais, os imigrantes
são hoje ""absolutamente críticos"
para a economia americana.
Os imigrantes estão hoje na base
de setores altamente aquecidos,
como a construção civil, e continuarão constituindo, no futuro,
uma força de trabalho ainda jovem para o país.
Projeções feitas por demógrafos
da Universidade de Michigan
com base em dados das Nações
Unidas e do Censo americano indicam que a média de idade da
população dos EUA em 2050 será
de cerca de 35 anos, principalmente por causa dos imigrantes e
de seus filhos. Na Europa, a média
de idade atingirá 52 anos.
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