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Tribunal religioso impede brasileira de deixar Líbano
Nariman fugia do marido, que acusa de espancá-la
TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
BEIRUTE
Uma brasileira que fugia da
violência do marido libanês foi
impedida de embarcar no aeroporto de Beirute de volta ao
Brasil na semana passada. Segundo as autoridades, ela e o filho de 6 anos estavam impedidos de deixar o Líbano devido a
um documento emitido por um
tribunal religioso ligado ao grupo xiita Hizbollah.
A brasileira Nariman O. C.,
de 21 anos, e o marido, o libanês
Ahmad Holeihel, simpatizante
do Hizbollah, chegaram ao Líbano no início do ano e viviam
em Baalbek, a 90 quilômetros
de Beirute. A cidade é um reduto do Hizbollah.
Segundo Nariman, que é natural de Paranaguá (PR), o marido a espancava e a ameaçou
de morte várias vezes. Após fugir de casa, a brasileira procurou o consulado do Brasil, que
entrou em contato com a ONG
Kafa, de apoio a mulheres vítimas de violência doméstica. O
Líbano não tem delegacias especializadas para mulheres.
"Estamos tratando deste caso com a máxima cautela e seriedade, pois trata-se de uma
cidadã brasileira sem amparo
por parte das leis do país", disse
o cônsul-geral brasileiro Michael Gepp. No Líbano, a guarda dos filhos pertence ao pai,
mas a mãe pode viajar com o filho sem autorização paterna.
"Oficialmente há uma queixa
contra mim que me impede de
voltar ao Brasil, por isso a ONG
contratou um advogado para
sabermos qual a queixa e que
opções eu tenho", disse Nariman, que já trocou de endereço
três vezes para não ser encontrada pelo marido.
As Forças de Segurança Internas (FSI) do país informaram o consulado que o documento que impedia a brasileira
e seu filho de embarcarem foi
emitido por um tribunal religioso de Baalbek. O tribunal é
uma entidade apoiada pelo
Hizbollah. Um fonte anônima
das FSI disse à Folha que o documento foi entregue às autoridades do aeroporto pelo Hizbollah. "O nome da brasileira e
de se filho estão nos computadores do aeroporto, cuja segurança é controlada pelo Hizbollah", revelou a fonte.
O aeroporto de Beirute é alvo
de disputa política. Em maio, o
governo pró-Ocidente retirou
do cargo o chefe de segurança
do aeroporto, aliado do Hizbollah. Essa e outras medidas
provocaram uma onda de violência entre grupos confessionais que deixou 65 mortos.
O governo acabou reintegrando o aliado do Hizbollah
ao seu posto. Um acordo de paz
foi depois alcançado entre os
dois lados, mediado por Qatar.
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