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NA ONDA LOCAL
Região responde por 16% da produção nacional e conta com mais de 12.000 fábricas
Agreste emplaca produção de jeans
DA ENVIADA ESPECIAL A PERNAMBUCO
No agreste do Estado de Pernambuco, uma vocação empreendedora para negócios de
confecção está mudando a cara de
uma região castigada pela falta de
chuvas. Ali, as cidades de Caruaru
(a 130 km do Recife), Toritama
(152 km) e Santa Cruz do Capibaribe (194 km) constituem hoje o
Pólo de Confecções do Agreste,
arranjo produtivo já conhecido
no país pela produção de jeans.
Segundo dados do governo de
Pernambuco, as três cidades juntas fornecem 16% do jeans consumido nacionalmente. O pólo produz 58 mil peças por mês e responde por 77 mil empregos.
Toritama, dizem os empresários, passou um ano e um mês
sem água nas torneiras no ano
passado. As mudanças tecnológicas na produção
de jeans geraram a
necessidade de
contar com lavanderias. Abastecidos por carros-pipas, cerca de 50
desses estabelecimentos funcionam na cidade.
Ainda segundo
o governo, 98% da
população de Toritama está envolvida na produção
de jeans. As fábricas funcionam 24
horas, com equipes que se alternam. O número
de máquinas de
costura supera o
de moradores.
Conectados
Os empresários do agreste não
têm formação superior, mas
acompanham as tendências da
moda via internet, acessando vitrines de cidades-referência como
Milão, Paris e Nova York.
Um deles é Edilson Lima, 33,
dono da confecção Zagnetron e
da lavanderia Mamute, em Toritama, que diz investir R$ 5.000
mensais para rastrear tendências.
"Assino revistas estrangeiras e
serviços virtuais para me atualizar. A informação demorava a
chegar. Começamos a trazê-la."
Lima entrou para o setor em
1982, quando o pai, ex-motorista
de táxi, teve de se mudar para o
interior por recomendação médica. "Começamos em casa, eu,
meus pais e meus irmãos. A mesa
de corte era a da cozinha."
A produção era comercializada
na feira livre e, à medida que a demanda aumentava, a família ia
improvisando o crescimento da
empresa. "Visitamos os sítios das
redondezas e convencemos as
donas-de-casa que costuravam
para os maridos a costurarem para a gente também", conta.
A população rural é uma das
engrenagens do Pólo de Confecções do Agreste. É nas oficinas familiares que o trabalho artesanal
é feito, e as peças voltam às fábricas para serem finalizadas. As feiras livres continuam desempenhando um papel fundamental
no escoamento da produção e são
destino de ônibus fretados por revendedores das
capitais nordestinas que se abastecem no pólo.
Referência
"Agora apostaremos nas marcas
fortes para gerar
referências e
agregar às peças
um conceito de
moda que caracterize a região",
explica Bruno
Antunes, 23, executivo de negócios da AD/Diper
(Agência de Desenvolvimento
Econômico de
Pernambuco).
Uma das iniciativas que devem
se tornar referência é a Rotadomar, instalada em Santa Cruz do
Capibaribe, que hoje emprega
150 pessoas e fornece para todo o
país. "Cerca de 35% da nossa produção vai para São Paulo", calcula o dono, Arnaldo Xavier, 38.
"Passamos seis anos na informalidade e aprendemos gestão
crescendo. A marca, por exemplo, veio muito depois de o negócio já estar dando certo", descreve Xavier. "A sensação que tinha
era a de ser um jóquei dono de
um ótimo cavalo, mas que ainda
não estava pronto para montá-lo", compara o empresário.
A jornalista TATIANA DINIZ viajou a convite do governo do Estado de Pernambuco
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