São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 2011

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Ciência & Tecnologia

A vida no mar protegida

Por CORNELIA DEAN

BOSTON - Novos esforços para proteger a vida marinha ganharam o surpreendente apoio de pesquisadores, autoridades reguladoras, técnicos e pescadores -grupos com frequentes discordâncias entre si em questões de regulamentação.
O problema em questão é a captura acidental de peixes, baleias, tartarugas, aves marinhas e até mesmo corais.
"Isso é parte do dano colateral que a pesca provoca", disse Tim Werner, que dirige o programa de engenharia da conservação marinha no Aquário da Nova Inglaterra.
"Você coloca uma rede e apanha uma tartaruga, prepara uma armadilha para lagostas e prende uma baleia, puxa uma rede de arrasto e arranca um coral."
Essas iniciativas, envolvendo modificações nos equipamentos de pesca, surgiram na década de 1990 no golfo do Maine, onde toninhas apareceram nas redes.
Engenheiros e biólogos desenvolveram dispositivos que emitiam ruídos sob a água. Em poucas semanas, o número de toninhas capturadas caiu 90%.
"É um pouco mais caro para os pescadores, mas a maioria deles está disposta a arcar com a despesa", disse Scott Kraus, vice-presidente de pesquisa do Aquário da Nova Inglaterra, onde fica a sede do Consórcio para a Redução da Captura Acidental da Vida Selvagem.
Ele acrescentou que os pesquisadores estão desenvolvendo equipamentos sonoros que afastam as espécies afetadas pela captura acidental.
Neste ano, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) dos EUA começou a exigir que os pescadores no golfo do México usem anzóis que sejam suficientemente robustos para capturar as espécies "alvos", como o atum-amarelo e o peixe-espada, mas que se dobrem e liberem a presa quando forem mordidos por espécies maiores, como o atum "bluefin", que estão gravemente superexploradas.
O biólogo Chris Rilling, da NOAA, disse que esses "anzóis fracos" reduziram em 56% a pesca acidental do "bluefin".
Em outros lugares, disse ele, a agência está promovendo o uso do anzol circular, que "praticamente dá a volta e se enrola em si mesmo". Sua adoção no Havaí, contou Rilling, levou a uma queda de mais de 80% na captura acidental de tartarugas.
"Estamos realmente estimulando os anzóis circulares no mundo todo", afirmou.
Ele disse que o governo tem outras propostas para reduzir a captura acidental de tartarugas marinhas, como exigir que barcos de pesca de atum mantenham seus anzóis pelo menos 100 metros abaixo da superfície.
Outra modificação foi inventada por dois pescadores de Rhode Island, Phil Ruhle e seu filho Phil Jr., com a ajuda de pesquisadores cientistas.
Eles redesenharam as redes de modo a aproveitar sua observação de que o hadoque, quando assustado, tende a nadar para cima, enquanto o bacalhau, uma espécie esgotada, mergulha.
O "arrasto de Ruhle" já está sendo amplamente usado.
Até 80% das baleias francas ameaçadas no Atlântico Norte possuem cicatrizes por ficarem enroscadas em redes e linhas. Os pesquisadores estão desenvolvendo linhas coloridas ou iluminadas, que sejam mais visíveis para as baleias.
Rilling diz que, no mar de Bering, as empresas de pesca transmitem informações "quase instantaneamente" aos seus barcos para que evitem áreas povoadas com salmões. Uma iniciativa semelhante existe em Massachusetts.
Os pesquisadores já notaram também que os tubarões evitam encontros com certos metais raros, usados em computadores e outros produtos.
"Talvez seja possível acoplar esses elementos aos equipamentos de pesca", disse Werner.
David Cousens, que dirige a Associação de Pescadores de Lagosta do Maine, diz que, embora seus membros tentem atender às exigências dos conservacionistas, as mudanças tendem a ser caras e complicadas.
"A coisa está sendo guiada demais pela comunidade conservacionista", disse.
"Estamos à mercê de advogados e juízes que não sabem nada de pesca", acrescentou
E alguns problemas persistem, apesar de cooperação.
O dispositivo sonoro para as toninhas, por exemplo, pode estar expulsando esses animais de um habitat utilizável.
"Estamos tentando ser proativos", disse Werner, "para reconhecer que os pescadores não são os vilões neste jogo, e sim uma parte fundamental da solução".


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