São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2000

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Longe da escola

O que professores e alunos têm a dizer sobre a queda na qualidade do ensino básico detectada pelo exame que o Ministério da Educação acaba de divulgar? O que se passa nas escolas?
São perguntas tão óbvias que poderiam prescindir de registro, não tivesse o assunto permanecido mais de uma semana no noticiário sem que o jornal desse nomes e rostos ao diagnóstico oficial. No período, a reportagem se limitou a reproduzir números, e mesmo sobre eles pouco refletiu.
Hoje, segundo me informou a Redação, o caderno Cotidiano publica a primeira matéria a respeito dos resultados do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) em que os entrevistados são professores e alunos.
O jornal custou a manifestar interesse pela vida real, mas não demonstrou reserva diante das explicações governamentais.
Primeiro, a de que "a entrada na escola pública de um perfil de aluno mais carente puxou a média para baixo". Esboçado inicialmente pelo ministro Paulo Renato, o raciocínio foi repetido em entrevistas com a secretária da Educação do Estado de São Paulo e com a presidente do órgão responsável pela elaboração do exame federal.
Nenhuma das duas teve grande dificuldade para passar pelas perguntas.
Depois, diante da constatação de que também na rede particular a situação piorou, colheu-se do ministro a justificativa de que a escola está "chata", desinteressante para crianças e adolescentes que teriam muito contato com conhecimento fora da sala de aula, "em especial via Internet".
Dois ou três números teriam bastado para mostrar o quanto a exposição a tal conhecimento foi superestimada pelo ministro, a quem convém localizar as causas do problema longe de seu gabinete. Mas nada foi feito para contradizê-lo.
Como diz um colega, a vantagem de sair da Redação e ir às escolas é que lá, à diferença do que ocorreu nas entrevistas mencionadas, existe a chance de o repórter se surpreender com o que vai ouvir.



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