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A Petrobras é nossa
Depois de ensaiar a transformação do Sete de Setembro em
"festa popular", o governo investe pesado na comemoração do
cinquentenário da Petrobras.
O pontapé inicial ocorreu nos
jornais de sexta (3/10, data do
nascimento da empresa): eles se
encheram de anúncios de estatais, a começar pela aniversariante -que pagou para ter encartes cobrindo algumas capas.
Nada contra a abundância de
publicidade, ainda mais num cenário de crise -admitido, aliás,
oficialmente pela mídia, por
meio de suas entidades, com a
emissão, na semana, de um documento no qual o setor reclama
para si, do BNDES, uma política
específica de financiamento.
O que cabe ponderar, aqui, é
até que ponto a avalanche do
patriotismo estatal contagiou
(ou não) o conteúdo editorial
dos meios de comunicação.
Os três maiores jornais de circulação nacional -Folha, "Estado" e "Globo"- publicaram
na sexta cadernos especiais para
lembrar a data (veja no quadro,
também com os encartes publicitários baseados em edições de
1953 desses mesmos jornais ).
Tudo bem: impossível deixar
passar a data sem algo diferenciado, tratando-se da maior empresa do país. O problema é que
todos eles, cada qual a seu modo,
deixaram a desejar em matéria
de distanciamento crítico.
"Estado" e "Globo" fizeram
edições em tom excessivamente
laudatório, de enaltecimento, a
começar pelos títulos, boa parte
deles semipublicitários.
Em compensação, incluíram
-principalmente o "Globo"-
reportagens sobre as mortes
ocorridas em acidentes com plataformas (destaque para a tragédia da P-36, em 2001), além de
aspectos polêmicos relacionados
à atuação do Petros (fundo de
pensão dos funcionários da estatal) e à administração da empresa (como a terceirização de funcionários, que, alega-se, fragilizou a segurança do trabalho).
A Folha deu a seu caderno
uma temperatura não-festiva,
um linguajar mais sóbrio, menos
empolgado -o que lhe garantiu
dimensão crítica. Também enfatizou, por exemplo, a instrumentalização política e econômica
da empresa por diferentes governos ao longo de meio século.
Porém, "apagou" da história as
mortes, não mencionou o Petros
nem as terceirizações.
Seria precipitado fazer ilações
generalizantes sobre os motivos
que teriam supostamente guiado
o comportamento de cada jornal
nesse episódio.
Mas não custa relembrar, com
base nele, que, especialmente em
tempo de vacas magras, todo cuidado será pouco para manter
uma mídia forte e independente.
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