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Fumaça e fogo
A Folha manteve sobriedade
na cobertura dos desdobramentos do assassinato do casal Richthofen numa semana em que
prevaleceram na mídia, com
destaque para as TVs, a comoção e o sensacionalismo.
Sensibilidade semelhante não
se manifestou, porém, no modo
como foi tratado o caso Pedrinho, outro que tomou conta de
boa parte da imprensa.
Enumerem-se seus ingredientes "humanos": um casal que teve o filho "subtraído" na maternidade e que após 16 anos o localiza a partir de um exame de
DNA; um jovem que, duas semanas depois de perder o pai (adotivo) por causa de um câncer, vê
sua identidade e sua filiação
brutalmente questionadas; uma
mãe (agora viúva) com complicada trajetória posta, de repente,
ante uma situação na qual pode
perder o filho (adotivo) e/ou, talvez, ir para a prisão.
Socialmente, o caso traz à tona, ainda, questões ligadas à
prática de adoção no Brasil, à segurança no sistema de saúde, à
pertinência de certas leis.
Dos principais jornais, a Folha
foi o único a não dar chamada
na capa de sábado (9) à confirmação de que o rapaz era o filho
biológico do casal Braule Pinto.
No domingo, nada saiu. Só na
última sexta -depois de mantido quatro dias em páginas internas sem expressivo destaque ou
especial investimento jornalístico-, o caso ganhou mais espaço
e chegou à Primeira Página.
Cabe refletir se a Folha, por
mais que tenha dado tratamento equilibrado ao caso Richthofen, não se deixou seduzir em demasia pelo seu poderoso apelo
midiático, dedicando-lhe esforço
exatamente em detrimento do
caso Pedrinho -também complexo, abrangente, dramático.
O jornal, no mínimo, custou a
ver que, por trás da fumaça de
um suposto "final feliz", havia,
na verdade, muito fogo.
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