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CLÓVIS ROSSI
Não era ouro, era pirita
LAUSANNE - Menos mal que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha
chegado ontem a Lausanne carregando consigo o que considera o verdadeiro problema: a retração da economia apontada pelo IBGE no primeiro trimestre do ano.
Houve um momento em que, sempre pelas declarações do próprio presidente, sua preocupação estava em
olhar na telinha do computador a
queda do risco-país e do dólar.
Nada contra uma ou outra. Mas
risco-país e dólar são objetos de consumo para poucos. Atividade econômica, sim, é preocupação de praticamente todos, com a consequente influência sobre o emprego.
E, quando Lula grifou a palavra
"mudança", a que abre, solitária, o
seu discurso de posse, a tradução poderia ter sido a mais variada possível,
conforme a mudança que cada qual
desejasse mais. Mas, para a maioria,
parece óbvio que "mudança" significa crescimento, emprego e melhores
salários e/ou renda.
Parece igualmente óbvio que, mantida a política macroeconômica
atual, as chances de crescimento ficam no mínimo esmaecidas.
É verdade que os juros no patamar
indecente atual parecem com os dias
contados. O próprio Lula já deu, outro dia, o recado: estão criadas as
condições para reduzi-los. Não creio
que os basbaques que diziam que o
BC não podia mexer nos juros no mês
passado por causa da "pressão" tenham, agora, coragem de reclamar
da "pressão" do presidente.
Mesmo que os juros comecem a
cair, estará sendo reduzido apenas
um dos obstáculos ao crescimento
sustentado. Falta todo o resto. Faltam políticas que o governo apenas
esboçou, aqui e ali, retoricamente,
encantado que estava com o encantamento dos mercados com a conversão do PT a políticas que o partido
abominava até a véspera.
O relatório do Ipea que Lula diz ter
trazido para ler no avião demonstra
que o deslumbramento não era de
ouro, mas de pirita, o chamado "ouro
dos tolos".
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