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COBAIAS QUASE HUMANAS
O polêmico médico italiano
Severino Antinori anunciou na
semana passada que, em janeiro,
uma mulher deverá dar à luz um clone humano. Dias depois, a empresa
Clonaid, ligada à seita religiosa dos
raelianos, afirmou que implantou
cinco embriões humanos clonados
em mulheres. O primeiro deve nascer agora em dezembro.
Esse é o tipo de experimento que
conta com a reprovação quase consensual da comunidade científica internacional. Por razões ainda não
muito bem conhecidas, a maioria
dos clones de animais resulta em
abortos; os que sobrevivem à gestação tendem a nascer com sérios problemas de saúde. Como a utilidade
de clonar um ser humano para fins
reprodutivos é relativamente limitada -a principal demanda é de casais
inférteis-, tudo recomenda que a
chamada clonagem reprodutiva seja,
senão proibida, pelo menos suspensa, até que as dificuldades técnicas
estejam resolvidas.
Infelizmente, sempre haverá grupos que se colocarão contra o consenso e tentarão promover-se à custa
de experiências polêmicas e irresponsáveis. Como existem "paraísos
genéticos" (países que não possuem
leis contra tal tipo de experimento),
não há muito o que se possa fazer,
além de condenar com palavras esse
gênero de aventura.
Para além de bazófias e crenças
exóticas promovidas por "outsiders"
da ciência, está em curso uma discussão ética relevante e responsável a
propósitos de experimentos também
polêmicos, mas úteis. É o caso, por
exemplo, da proposta de testar células-tronco humanas em ratos.
Células-tronco embrionárias têm
capacidade para converter-se em
qualquer tipo de tecido, de ossos a
pele. Acredita-se que possam conter
a chave para tratamentos contra diversas moléstias. No limite, serviriam também para fazer órgãos como rins e corações para reposição.
Por razões éticas, não se podem
utilizar seres humanos para injetar-lhes células-tronco embrionárias e
assim aprender mais sobre elas e testar a eficácia de diferentes linhagens.
O caminho, nesses casos, é substituir pessoas por ratos. O problema é
que os seres resultantes desse gênero
de experimento seriam o que os biólogos chamam de quimeras, isto é,
híbridos, parte ratos, parte homens.
Na verdade, seriam fundamentalmente ratos com algumas células
humanas. Mesmo assim, ficam algumas perguntas. Qual a proporção
de células humanas necessárias para
que esses ratos-homens sejam considerados humanos? E se a experiência
resultar num rato cujo cérebro se
constitua principalmente de células
humanas? E se o animal for capaz de
produzir espermatozóides ou óvulos
integralmente humanos?
Não existem respostas fáceis para
questões como essas. Mas experimentos com células-tronco são
úteis, legítimos e devem ser levados
adiante. Isso não significa que não
encerrem problemas éticos que precisam ser debatidos e equacionados.
Se o homem almeja tornar-se senhor da vida e da morte deve ser capaz de encontrar respostas eticamente aceitáveis para os problemas
que ele próprio cria.
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