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ELIANE CANTANHÊDE
Sede ao pote
BRASÍLIA - O governo Lula nem começou, mas o todo-poderoso José
Dirceu já está botando as manguinhas de fora para afastar eventuais
concorrentes na articulação política.
Pelo menos, é o que dizem no PT.
Dirceu estaria por trás, por exemplo, da indefinição de uma boa e forte vaga política para José Genoino,
um dos mais influentes nomes do
partido -inclusive junto à imprensa. A expectativa inicial era a de que
Lula o brindasse com uma gentileza,
anunciando seu nome antes de todos
os demais. Até agora, nada.
Dirceu também estaria por trás da
ida de Luiz Gushiken para a Secretaria de Comunicação, que cuida de
publicidade. Quem deve ir para a vaga que se julgava de Gushiken, a Secretaria Geral da Presidência, é Luiz
Dulci. Que é menos ligado a Lula e
disputa menos espaço com o futuro
chefe da Casa Civil.
Dirceu também estaria armando a
ida de João Paulo Cunha da liderança do PT para a presidência da Câmara, mas... com Dirceu no seu pé.
Na época do pefelista Luís Eduardo
Magalhães na presidência, tudo era
decidido em comum acordo com o
Planalto, mas sob seu comando direto. Com João Paulo, a expectativa é
que reuniões de líderes jamais comecem sem o chefe da Casa Civil.
Dirceu, portanto, reina sozinho na
articulação política. Mas, acima de
ministros, mesmo dos mais poderosos, costuma reinar o próprio presidente. E o Lulinha paz e amor está se
revelando um rei em potencial, centralizador o bastante para não gostar
de quem vai com tanta sede ao pote.
Ninguém nega a competência, a capacidade de trabalho, a liderança
que Dirceu conquistou ao longo dos
anos e sobretudo durante a campanha vitoriosa de 2002. Mas foi-se o
tempo dos Golberys, e o temperamento de Lula talvez não comporte um
novo Sérgio Motta.
Apesar de ter feito carreira política
em São Paulo, Dirceu nasceu em Minas. Uma volta às origens lhe faria
bem. Ser "mineiro", nessas horas, evita um bocado de problemas.
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