São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Sede ao pote

BRASÍLIA - O governo Lula nem começou, mas o todo-poderoso José Dirceu já está botando as manguinhas de fora para afastar eventuais concorrentes na articulação política. Pelo menos, é o que dizem no PT.
Dirceu estaria por trás, por exemplo, da indefinição de uma boa e forte vaga política para José Genoino, um dos mais influentes nomes do partido -inclusive junto à imprensa. A expectativa inicial era a de que Lula o brindasse com uma gentileza, anunciando seu nome antes de todos os demais. Até agora, nada.
Dirceu também estaria por trás da ida de Luiz Gushiken para a Secretaria de Comunicação, que cuida de publicidade. Quem deve ir para a vaga que se julgava de Gushiken, a Secretaria Geral da Presidência, é Luiz Dulci. Que é menos ligado a Lula e disputa menos espaço com o futuro chefe da Casa Civil.
Dirceu também estaria armando a ida de João Paulo Cunha da liderança do PT para a presidência da Câmara, mas... com Dirceu no seu pé. Na época do pefelista Luís Eduardo Magalhães na presidência, tudo era decidido em comum acordo com o Planalto, mas sob seu comando direto. Com João Paulo, a expectativa é que reuniões de líderes jamais comecem sem o chefe da Casa Civil.
Dirceu, portanto, reina sozinho na articulação política. Mas, acima de ministros, mesmo dos mais poderosos, costuma reinar o próprio presidente. E o Lulinha paz e amor está se revelando um rei em potencial, centralizador o bastante para não gostar de quem vai com tanta sede ao pote.
Ninguém nega a competência, a capacidade de trabalho, a liderança que Dirceu conquistou ao longo dos anos e sobretudo durante a campanha vitoriosa de 2002. Mas foi-se o tempo dos Golberys, e o temperamento de Lula talvez não comporte um novo Sérgio Motta.
Apesar de ter feito carreira política em São Paulo, Dirceu nasceu em Minas. Uma volta às origens lhe faria bem. Ser "mineiro", nessas horas, evita um bocado de problemas.


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