São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

China, progresso e problemas

Não há analista que desconsidere a gravidade da crise de confiança que abateu os mercados internacionais. As economias avançadas crescem devagar e os investidores estão cautelosos.
Pois, nesse cenário de incertezas, a economia da China continua crescendo a taxas superiores a 7% ao ano. Nos últimos 25 anos, o PIB chinês aumentou quase dez vezes! As reservas internacionais chegam a US$ 235 bilhões. O país está atraindo mais de US$ 60 bilhões de capitais produtivos por ano. E a taxa de poupança interna se mantém no altíssimo nível de 40%.
Tudo isso é intrigante quando se observa ser a China uma nação relativamente pobre em recursos naturais. Vejam estes exemplos.
A China possui apenas 7% da água do mundo e esta escasseia cada vez mais. As terras protegidas por florestas e vegetação são apenas 4% do total. Aliás, todas as florestas chinesas somadas chegam a 3% do total mundial -uma das causas da escassez de água. O país é pobre em energia. A principal fonte é ainda o velho carvão, responsável por mais de 70% de toda a energia consumida. A poluição é imensa.
Apesar de todas essas restrições, a China cresce a níveis estonteantes e, como tal, constitui um grande atrativo para o Brasil. Nossas economias são complementares. O Brasil é abundante em recursos naturais e em produtos agrícolas. Só aí já há um campo imenso para nossas exportações.
Isso não é sonho. Com um esforço inicial pequeno e bem feito, realizado pelo ministro Sérgio Amaral, as exportações brasileiras para a China cresceram 75% entre 2000 e 2001, e continuarão crescendo em 2002-03.
Não são só alimentos. Nesse curto período, o Brasil exportou minério de ferro, aço, veículos, aviões, máquinas, implementos e vários outros produtos.
O horizonte para as exportações brasileiras é imenso, especialmente quando se considera que a China, em 2010, terá uma população de 1,4 bilhão de pessoas e, para alimentá-las, importará cerca de 300 milhões de toneladas de alimentos por ano.
Tudo isso forma um feixe de fatores de atração para o Brasil que, no meio da mesma crise mundial, conseguiu exportar mais de US$ 60 bilhões em 2002, acumulando um valioso superávit comercial de quase US$ 12 bilhões.
Está aí a prova de que, mesmo com imensos problemas, como é o caso da China e do Brasil, quando os países se dispõem a trabalhar duro, as coisas andam. Com todas as dificuldades, podemos aumentar muito o nosso volume de vendas para a China e a geração de empregos no Brasil.
Mas no mundo da economia nem tudo é certeza absoluta. A China enfrentará problemas políticos sérios. Há riscos na sua trajetória. Esse será o assunto do próximo artigo.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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