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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
China, progresso e problemas
Não há analista que desconsidere
a gravidade da crise de confiança
que abateu os mercados internacionais. As economias avançadas crescem devagar e os investidores estão
cautelosos.
Pois, nesse cenário de incertezas, a
economia da China continua crescendo a taxas superiores a 7% ao ano. Nos
últimos 25 anos, o PIB chinês aumentou quase dez vezes! As reservas internacionais chegam a US$ 235 bilhões.
O país está atraindo mais de US$ 60
bilhões de capitais produtivos por
ano. E a taxa de poupança interna se
mantém no altíssimo nível de 40%.
Tudo isso é intrigante quando se observa ser a China uma nação relativamente pobre em recursos naturais.
Vejam estes exemplos.
A China possui apenas 7% da água
do mundo e esta escasseia cada vez
mais. As terras protegidas por florestas e vegetação são apenas 4% do total.
Aliás, todas as florestas chinesas somadas chegam a 3% do total mundial
-uma das causas da escassez de
água. O país é pobre em energia. A
principal fonte é ainda o velho carvão,
responsável por mais de 70% de toda a
energia consumida. A poluição é
imensa.
Apesar de todas essas restrições, a
China cresce a níveis estonteantes e,
como tal, constitui um grande atrativo
para o Brasil. Nossas economias são
complementares. O Brasil é abundante em recursos naturais e em produtos
agrícolas. Só aí já há um campo imenso para nossas exportações.
Isso não é sonho. Com um esforço
inicial pequeno e bem feito, realizado
pelo ministro Sérgio Amaral, as exportações brasileiras para a China
cresceram 75% entre 2000 e 2001, e
continuarão crescendo em 2002-03.
Não são só alimentos. Nesse curto
período, o Brasil exportou minério de
ferro, aço, veículos, aviões, máquinas,
implementos e vários outros produtos.
O horizonte para as exportações
brasileiras é imenso, especialmente
quando se considera que a China, em
2010, terá uma população de 1,4 bilhão
de pessoas e, para alimentá-las, importará cerca de 300 milhões de toneladas de alimentos por ano.
Tudo isso forma um feixe de fatores
de atração para o Brasil que, no meio
da mesma crise mundial, conseguiu
exportar mais de US$ 60 bilhões em
2002, acumulando um valioso superávit comercial de quase US$ 12 bilhões.
Está aí a prova de que, mesmo com
imensos problemas, como é o caso da
China e do Brasil, quando os países se
dispõem a trabalhar duro, as coisas
andam. Com todas as dificuldades,
podemos aumentar muito o nosso volume de vendas para a China e a geração de empregos no Brasil.
Mas no mundo da economia nem
tudo é certeza absoluta. A China enfrentará problemas políticos sérios.
Há riscos na sua trajetória. Esse será o
assunto do próximo artigo.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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