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O ESTADO DO PT
Se o pouco tempo no governo
torna injustas algumas das críticas ao presidente Lula, é preciso reconhecer que, dentro e fora do PT,
vem crescendo a frustração com a
ausência de uma política alternativa.
As propostas do PT sempre apontaram para outra política econômica
e também para uma nova dinâmica
no cenário político brasileiro.
Pior: como o presidente Lula e seus
ministros têm sido incapazes de
apontar para mudanças substantivas, ganha força a hipótese de que
talvez esse modelo nem sequer tenha
sido formulado pela sua equipe.
Não basta querer o consenso sobre
reformas, é preciso colocar sobre a
mesa uma proposta. O governo Lula
tem fugido a essa responsabilidade.
A idéia de uma transição em si é
oportuna, mas em tese nada impede
que o governo coloque também às
claras qual é o seu projeto de longo
prazo para o Brasil.
Sem isso, a transição parece um
fim em si mesmo, cuja única face visível é o continuísmo das políticas
econômicas e das práticas políticas
que sempre foram criticadas pelo PT.
Ao menos em parte essa transição
em meio a um vazio de estratégias se
deve a dificuldades práticas.
Depois de quase duas décadas de
reformas liberais, o mero reordenamento da máquina do governo federal no sentido do desenvolvimento
econômico é um desafio formidável.
No entanto o governo Lula poderia
ao menos ser mais transparente e
consequente se saísse do atual estado de mera reiteração do modelo
econômico do governo anterior.
Se as mudanças serão microeconômicas, então que o seu sentido venha
a debate, ainda que não exista o Estado ideal para a sua implementação.
É o que se esperava, contra ou a favor, de um governo petista, seja pela
sua tradição de críticas ao modelo
neoliberal vigente, seja porque objetivamente a política de arrocho fiscal
e monetário tem sido incapaz de
conter a crise inflacionária.
O continuísmo econômico está associado ao continuísmo de práticas
políticas clientelistas. A ampliação
da base parlamentar condicionada
pela troca de cargos por apoio, sem
que se explicitem as propostas e projetos em jogo, é temerária.
Os negaceios peemedebistas e o loteamento de ministérios e demais escalões tornam ainda mais difícil não
apenas o surgimento de um Estado
consistente com a agenda histórica
do PT mas a mobilização do governo
para uma estratégia coesa em torno
de políticas de longo prazo.
O combate à fome parece hoje
principalmente uma operação de
marketing político distante no tempo. Mas a política econômica e o Estado que a executa continuam envoltos na incerteza, enquanto o país caminha para a recessão.
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