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CLÓVIS ROSSI
Dois preços
SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu avaliação
de que o Conselho de Segurança das
Nações Unidas acabará aprovando
por pelo menos nove votos (em 15
membros) a resolução norte-americana/britânica que é, na prática, a
declaração de guerra ao Iraque.
Poderia haver veto da França, mas
a análise passada a Lula diz que os
franceses só o fariam se tivessem certeza de que seriam acompanhados
pelos dois outros membros permanentes do Conselho de Segurança que
se opõem à guerra e têm poder de veto (China e Rússia).
Como esses dois países devem abster-se, retórica antiguerra à parte, a
França não vai correr o risco de um
total isolamento -sempre de acordo
com a análise que acaba de ser feita
ao presidente.
Nesse cenário, há gente em pleno
Palácio do Planalto que dá graças a
Deus pelo fato de o Brasil não ter assento no Conselho de Segurança,
nem permanente, como pleiteia (o
que lhe daria direito a veto), nem rotativo, que assume em janeiro.
De fato, seria uma complicadíssima
decisão o voto nessas circunstâncias.
O Brasil já vai ficar isolado na América Latina, visto que a expectativa
da diplomacia brasileira é a de que
Chile e México (os dois únicos países
latino-americanos no CS) acabarão
votando com os EUA.
O presidente Bush, aliás, pressionou o seu colega mexicano, Vicente
Fox, para que o faça, insinuando que
nem abstenção é atitude aceitável
para um parceiro tão próximo.
Para um governo que se dispõe a
fazer uma política externa mais
"pró-ativa" (para usar o léxico diplomático, às vezes abominável), seria
uma tremenda sinuca de bico.
É cruelmente irônico: o governo Lula paga um preço, interno, por não
mudar a política econômica e corre o
risco de também pagar um preço por
mudar pelo menos a ênfase da sua
política externa.
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