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CLÓVIS ROSSI
Horror, hipocrisia e silêncio
LONDRES - O presidente George Walker Bush se diz "enojado" com as cenas de torturas aplicadas por seus
soldados a prisioneiros iraquianos.
Seu sócio europeu, o primeiro-ministro Tony Blair, está "horrorizado"
com idênticas práticas por soldados
de Sua Majestade.
Podem até estar sendo sinceros,
mas não dá para acreditar. As torturas no Iraque são filhas bastardas do
tratamento que os EUA estão dando,
há mais de dois anos, aos prisioneiros
que fez no Afeganistão e recolheu à
base de Guantánamo (Cuba).
Pois bem. O governo cubano pediu
às Nações Unidas que condenassem
os EUA pelos maus-tratos em Guantánamo. Hipocrisia de Fidel Castro,
que não tem moral para falar em
maus-tratos a quem quer que seja?
Pode ser. Mas é também hipocrisia
do governo dos EUA e de todos os que
silenciaram os crimes praticados em
Guantánamo. Ninguém apoiou a
proposta cubana.
Só depois é que surgiram os vídeos
sobre torturas. É praticamente inevitável: quando o comandante-em-chefe dá licença para violar regras
elementares do Direito e do tratamento humano a prisioneiros, o
guarda da esquina sente-se autorizado a tudo.
Ainda mais quando, segundo a mídia britânica, os soldados alegam estar agindo, ao menos em parte, por
instrução de "interrogadores mercenários contratados pelo Pentágono".
É o "outsourcing" da tortura.
"Outsourcing" parecido é o financiamento assumido dos EUA à oposição ao presidente Hugo Chávez.
Hugo Chávez é "do mal"? Não importa. Importa lembrar que os EUA
financiaram a oposição ao presidente (constitucional) Salvador Allende,
no Chile e deu em Pinochet, um genocida, conforme a acusação do juiz espanhol Baltasar Garzón.
Financiaram Osama bin Laden e
seus talebãs contra a invasão russa
do Afeganistão. Deu Al Qaeda.
O ovo da serpente não tem cor, credo ou raça. Pode não incubar, mas
esperar em silêncio que não o faça é
muito arriscado.
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