|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Não é granada por granada
BRASÍLIA - Os bandidos do Rio de Janeiro não são uns bandidinhos
quaisquer. Dispõem de granadas
iguais às da Aeronáutica e de minas
terrestres iguais às do Exército, dessas
que arrancam pernas e vidas de milhões na África e na América Central,
por exemplo.
Se eles têm tudo isso, o que têm os
pais, mães e filhos que precisam morar, trabalhar, ir à escola, namorar,
caminhar, andar de carro e de ônibus? Têm medo.
É incompreensível que bandidos tenham granadas e minas para usar a
qualquer hora, contra quem bem entenderem, enquanto Exército, Marinha e Aeronáutica têm homens, armas e experiência (além das mesmas
granadas e minas), mas só para usar
em treinamento de militares que não
guerreiam. Quase por diletantismo,
já que há décadas não há guerras e
não há nenhuma guerra à vista.
No governo Lula, de esquerda, reunindo conhecidos ex-perseguidos e
até alguns ex-torturados do regime
militar, trata-se de uma discussão
complexa. Mas, enquanto uns discutem, outros planejam. Na hora em
que a voz política mandar, as bases
militares não só farão continência
como estarão prontas a atuar.
Em especial dois batalhões de elite:
o de Operações Especiais, no próprio
Rio, e o de Infantaria Pára-Quedista,
em Goiânia. Entre outras coisas, seus
5.600 homens têm maior treinamento em áreas urbanas e são majoritariamente profissionais, não recrutas.
Lula, os ministros José Viegas e
Márcio Thomaz Bastos e os governadores Garotinho vêm discutindo tudo
isso desde o ano passado e têm, cada
um, seguido direitinho o script. Partiu dos governadores, por exemplo, o
pedido oficial e público. Agora, cabe
a Lula responder com uma proposta
prática. Ela virá em 10 de maio.
Depois disso, os bandidos do Rio
que se cuidem. Não se trata de "olho
por olho, dente por dente", nem de
mina por mina, granada por granada. Trata-se, apenas, de ação moral
de dissuasão e de o Estado garantir
segurança e vida a uma população
em permanente estado de risco.
Texto Anterior: Londres - Clóvis Rossi: Horror, hipocrisia e silêncio Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Noites de outrora Índice
|