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CLÓVIS ROSSI
Viva a diferença
SÃO PAULO - O PT busca acordos com Orestes Quércia e com o PL da
Igreja Universal do Reino de Deus.
Ciro Gomes monta uma suposta
"frente trabalhista", recheada de
"colloridos" de primeira hora e de
carteirinha assinada, embora, depois, breque um acordo em Alagoas
com o chefe da turma toda.
Agora, José Serra se abraça com Cesar Maia, prefeito do Rio, pefelista
que cansou de usar a terceira página
desta Folha para uma série de artigos em que esculhambava a candidatura "tucana", previa que Serra
desistiria no máximo em maio e, como se fosse pouco, elaborava a teoria
de um invencível desgaste dos dez
anos, período máximo que um governante poderia ser aceito pelo público.
Fernando Henrique Cardoso, no
dizer de Maia, seria vitimado pela
síndrome dos dez anos e acabaria
fulminado na eleição deste ano.
Essa sociologia de botequim foi rapidamente esquecida. Maia já não
fala nenhuma palavra das supostas
armações de Serra contra Roseana
Sarney, que não cansou de denunciar, e dá os braços ao ex-desafeto.
Depois, os políticos se queixam do
desgaste da nobre categoria com o
público em geral, fenômeno, aliás,
meio que universal. Até porque não
são apenas os políticos tupiniquins
que praticam cenas explícitas de "esqueçam o que escrevi", "esqueçam o
que fiz", "esqueçam o que eles fizeram e perdoem a nova aliança".
Por mais que as fronteiras ideológicas tenham sido derrubadas pelo fim
da Guerra Fria (uma tese sujeita ainda a controvérsias), algumas outras
fronteiras permanecem: as da biografia, da ética, dos valores etc.
Se todo mundo pode se aliar a todo
mundo, se todos podem atacar hoje
os que serão aliados amanhã, para
que tantos candidatos?
Tudo bem que o marketing político
veio para ficar. Mas entregar apenas
aos marqueteiros o trabalho de mostrar as diferenças entre os postulantes é reduzir a disputa eleitoral a um
certame publicitário; talvez brilhante, mas certamente vazio.
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